Empresa portuguesa propõe compra de carro online a concessionários de marca;

Netcar já vendeu 40 automóveis nos leilões invertidos
Empresa portuguesa propõe compra de carro online a concessionários de marca
“O processo de compra de carro é, muitas vezes, doloroso, pois os compradores não estão à vontade”, explica Nuno Poço, fundador da Netcar.
Chama-se Netcar e está no mercado desde março. Propõe ao mercado um sistema de leilões invertidos, em que concessionários oficiais das marcas fazem propostas para o veículo que o consumidor pretende, sendo todo o processo tratado online, passando para o offline apenas numa fase adiantada. O registo dos utilizadores no portal é, segundo a nossa fonte, gratuito, sendo a remuneração da Netcar, percentual, paga pelos concessionários por cada negócio concretizado.
O processo de compra de automóvel é, muitas vezes, um processo moroso e nem sempre se fica com a sensação de que conseguiu o melhor negócio. A plataforma online portuguesa Netcar, lançada em março, tem como meta ajudar os consumidores, particulares e empresariais, nessa tarefa. Disponível em www.netcar.pt, trata-se de um sistema de leilões invertidos, em que concessionários oficiais das marcas fazem propostas para o veículo que o consumidor pretende, sendo todo o processo tratado online, passando para o offline apenas numa fase adiantada.
“O processo começa com o potencial comprador a entrar na nossa plataforma, escolher a marca, modelo e especificações que pretende lançar numa sala de negociação, podendo inserir uma retoma no processo. Depois, o que a plataforma faz é, automaticamente, selecionar concessionários oficiais da marca em causa e chamá-los para responderem naquele processo. Cada concessionário pode fazer as suas propostas, o cliente faz contra propostas, a retoma é avaliada online e os concessionários podem propor alternativas, como viaturas de serviço ou viaturas que estejam em campanha e sejam oportunidades de compra”, disse à “Vida Económica” o CEO da Netcar, Nuno Poço.
Uma das características da Netcar é que apenas quando o cliente deseja é que a sua identificação é dada a conhecer à concessão. “O processo de compra de carro é, muitas vezes, doloroso, pois os compradores não estão à vontade com o processo. Os compradores não querem envolver-se demasiado cedo com as equipas de vendas. A indústria automóvel está pressionada para vender e essa pressão cai sobre as equipas de vendas e, algumas vezes, tornam-se ‘agressivos’ para a venda. A maioria dos compradores sente-se assediada por essa ‘agressividade’”, explica a mesma fonte.

Custos da procura também baixam

Além da, segundo a Netcar, possibilidade de compra a um PVP mais competitivo, outra vantagem do canal internet para os clientes é, de acordo com Nuno Poço, a redução do custo marginal da procura de preço. “Se eu quiser um determinado carro, começo por procurar na minha região, visitando os concessionários próximos de mim. Considerando o tempo que perco e outras despesas de deslocação que tenho, gasto cerca de 20 euros por cada visita que faço. Mas a partir do momento em que tenho de me deslocar a cerca de 100 km, aquele preço sobe de 20 para 40 euros. O custo marginal da procura de novos preços vai subindo à medida que eu vou procurando mais longe. Ora, na internet é exatamente o contrário, quanto mais procuro, mais o custo marginal da procura baixa. E o nosso processo ajuda nisso e é mais eficiente”, explica Nuno Poço.
O registo dos utilizadores no portal é, segundo a nossa fonte, gratuito, sendo a remuneração da Netcar, percentual, paga pelos concessionários por cada negócio concretizado. “O processo é gratuito para os clientes e não exigimos às concessões nenhum ‘fee’ de participação ou por ‘lead’ entregue, isto é, por cada cliente pronto a comprar. Apenas cobramos, à concessão, por cada negócio efetivado. E uma venda feita pela Netcar fica mais barata às concessões de que uma venda feita através das equipas de vendas. É, aliás, por isso que os preços feitos em sala de negociação são vantajosos em relação aos feitos no stand”, indica o CEO da Netcar.

Duzentos automóveis em 2014

Desde que está online, há seis meses, a plataforma mediou 40 vendas de automóveis, estando, no presente, “cerca de 200 processos de negociação a decorrer”, segundo Nuno Poço. O CEO da Netcar prevê que a plataforma venda 150 a 200 viaturas em 2014. O entrevistado assume ter dificuldade em fazer previsões de médio e longo prazo, dado este ser um canal novo, mas vai adiantando que, em outros mercados, “o canal internet representa 30% de todas as vendas para alguns concessionários automóveis”.
A internacionalização, também, nos planos de longo prazo da empresa.
“O mercado português é um mercado muito reduzido, com um potencial a rondar os 200 mil carros por ano. O mercado espanhol tem um potencial de 900 mil carros, o mercado francês tem um potencial de 1,9 milhões de unidades, Itália tem um potencial de 1,4 milhões de unidades e a Alemanha já vendeu 3,1 milhões de carros. São mercados que nos permitirão crescer muito. O nosso objetivo é, por isso, levar esta solução, que não existe em nenhum outro país da Europa, para outros mercados europeus com mais potencial”, explica Nuno Poço, que avisa, contudo, que essa internacionalização “está dependente da existência de parceiros de negócio”.
 
Ideia surgiu num MBA em Liverpool

A ideia de criar a plataforma de leilões invertidos de compra de carro surgiu a Nuno Poço quando fez um MBA na Universidade de Liverpool. “O canal internet tem identificado o problema de não conseguir prender o cliente do princípio ao final do processo. Porém, também, já vemos outros produtos em que ocorre exatamente o contrário, isto é, em que é a loja tradicional que tem esse problema. Há consumidores que, em alguns produtos, como os eletrónicos, por exemplo, estão a passar para o canal online. A minha tese foi justamente em torno dessa temática [aplicada à compra de automóvel]. Eu dividi o processo de compra em 19 tarefas diferentes, das fases da procura, da negociação e da entrega. O que se verifica é que o consumidor tende a passar para o offline à medida que avança no processo, mas também é verdade que há uma diferença de expectativa entre o consumidor médio e as ferramentas que tem à disposição. Isto é, isso não lhe permite que, mesmo que queira, ficar online”, refere o CEO da Netcar.
O mesmo responsável avisa que as marcas automóveis não estão muito preparadas para a presença comercial na internet. “Os websites das marcas também são muito limitados. E aí a indústria automóvel tem sido muito indecisa em relação à presença na internet. É um canal em que as marcas ainda não estão à vontade”, defende Nuno Poço.

 

Aquiles Pinto (aquilespinto@vidaeconomica.pt), 11/09/2014
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