Empresas devem dar prioridade à eficiência energética;

Presidente da AIP defende
Empresas devem dar prioridade à eficiência energética
Para José Eduardo Carvalho, a agressão militar russa veio revelar que a União Europeia não pode continuar a tentar descarbonizar o planeta sozinha, quando apenas emite 8% de CO2 do mundo.
As políticas de eficiência energética e a produção de energias com fontes renováveis devem ser uma prioridade para as empresas – considera José Eduardo Carvalho, presidente da AIP.
“Conhecemos os efeitos colaterais do plafonamento do preço de referência do gás natural (GN) para empresas mais expostas aos consumos energéticos, o défice tarifário que irá provocar, se tal for permitido por Bruxelas, e a complexidade da sua implementação. Mas neste momento não vejo qualquer medida com efeito alternativo a este que possa ter tanta influência nas contas de exploração das empresas” e “as propostas que o Governo está a estudar para construir uma solução de abastecimento de gás natural liquefeito (GNL) para o Norte da Europa, a partir de Sines, merece a nossa melhor atenção. O transhipping de GNL para navios de menor dimensão e calado com destino a estes mercados é uma das componentes deste projeto que nos parece positivo” foram algumas das afirmações de José Eduardo Carvalho proferidas no almoço-debate “A energia e a economia das empresas”, dia 27 de abril, iniciativa conjunta da Associação Industrial Portuguesa (AIP) e da Expense Reduction Analysts (ERA), e que reuniu 38 representantes de 30 empresas.
Tendo em conta que os preços do GN vão continuar muito pressionados, José Eduardo Carvalho espera que “a combinação de medidas de apoio às empresas e os efeitos a médio prazo das medidas e políticas que estão a ser tomadas possam reduzir a dependência de GN da Rússia, influenciar e ajustar os preços” e elencou as medidas que podem criar efeitos positivos, tanto na dependência energética face à Rússia como nos preços: “é importante manter políticas agressivas de eficiência energética, acelerar os programas de produção de energias através de fontes renováveis, a construção de terminais de GNL ou plataformas flutuantes com capacidade de regaseificação, que permite o reforço de diversificação para o GNL, o reforço das interligações entre os estados-membros, a constituição de stocks para enfrentar o inverno, a celebração de contratos com novos fornecedores, a derrapagem das metas de descarbonização, e o recurso transitório e moderado às centrais de carvão e nuclear”.
Numa reflexão de enquadramento sobre a economia alemã, que está em grandes riscos, uma vez que “a dependência energética assumida com o abastecimento barato de gás russo criou agora insegurança nos abastecimentos energéticos e provocou erros geopolíticos que hoje lamentamos”, o presidente da AIP lembrou que a Alemanha “não está disposta a enfrentar uma ligeira recessão para asfixiar a economia russa. Patrões e sindicatos avisam que tal decisão provocaria desemprego, desindustrialização e encerramento de empresas. E o Banco Central Alemão estima que um eventual embargo provocaria uma recessão na Alemanha e uma retração até 5% do PIB”. Acrescentou ainda que “prolongar a vida de três centrais nucleares, manter centrais a carvão e construir dois ou três terminais de GNL são passos importantes para reduzir a sua dependência dos fornecimentos russos, mas sem impacto no imediato”.

Moderação na definição de metas ambientais
Para o presidente da AIP, “a guerra veio introduzir moderação e realismo nas políticas de transição. E que uma expansão significativa de hidrogénio como substituto futuro do GN precisa das suas infraestruturas físicas. 40% da rede é construída em polietileno, que tem as condições adequadas para a distribuição de hidrogénio”. Defendeu ainda que “o gás é insubstituível na matriz energética e que podemos com a produção de gases renováveis criar uma produção endógena, necessária para a independência energética de Portugal e União Europeia”.
Por último, José Eduardo Carvalho afirmou que “a agressão militar russa veio revelar que a União Europeia não pode continuar a tentar descarbonizar o planeta sozinha, quando apenas emite 8% de CO2 do mundo e que é necessária moderação na definição de metas ambientais dada a pressão que tal provoca nos balanços das empresas e na política orçamental, nomeadamente nos países com um crescimento económico frágil.
O almoço-debate contou ainda com intervenções de Micaela Silva, da OZ Energia, Nuno Ribeiro da Silva, da Endesa, e Luís Dionísio, da Expense Reduction Analysts.
Susana Almeida, 12/05/2022
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