FC Porto supera metas intermédias do fair-play financeiro da Uefa;

SAD espera regressar aos lucros entrar em 2018/2019
FC Porto supera metas intermédias do fair-play financeiro da Uefa
“Vamos descer muitos os prejuízos esta temporada”, afirmou Fernando Gomes.
A SAD do FC Porto registou um resultado negativo de 35,3 milhões de euros em 2016/2017, um prejuízo 39,5% inferior aos -58,4 milhões do exercício anterior. Para efeitos do cumprimento do fair-play financeiro da Uefa, o prejuízo foi de 25,4 milhões, inferior aos 30 milhões estabelecidos com o organismo que tutela o futebol europeu. A SAD azul e branca confia, de resto, que vai voltar, esta temporada, a ir além dos “pedido” pela Uefa. “Nós vamos para além do acordado com a Uefa e vamos voltar a fazê-lo”, indica o administrador financeiro, Fernando Gomes.
O FC Porto anunciou que está a superar as metas de desempenho económico previstas no acordo que o clube assinou, em junho último, com a Uefa no que diz respeito ao fair-play financeiro. A SAD dos “Dragões” registou um resultado líquido negativo em 35,3 milhões de euros no período de 1 julho de 2016 e 30 de junho de 2017, mas para efeitos do acordo houve uma subtração de 9,9 milhões, perfazendo 25,4 milhões de prejuízo, valor abaixo dos 30 milhões estabelecidos com o organismo que tutela o futebol europeu.
O montante que a Uefa permite retirar aos prejuízos contabilizados prende-se com custos relacionados com as atividades das camadas de formação, amortizações (excluindo as de passes de jogadores), imposto sobre o rendimento e ainda os custos relacionados com o próprio acordo.
“Nós vamos para além do acordado com a Uefa e vamos voltar a fazê-lo”, indicou Fernando Gomes, administrador da SAD, aos jornalistas.
A SAD do FC Porto prevê na época em curso baixar o prejuízo para nove milhões de euros (o acordo permite chegar aos -20 milhões) e entrar no plano positivo em 2018/2019, com sete milhões de euros de lucro (limite da Uefa são -10 milhões). Quanto a 2019/2020, o último ano do acordo, a administração da SAD prevê um resultado positivo de 14 milhões de euros, com o acordo a obrigar ao “break-even” (sem lucros ou prejuízos).
O mesmo responsável disse que a proposta feita pelo FC Porto à Uefa para “normalização” até 2019/2020 “foi aceite sem condições”.
 “O nosso objetivo é desportivo. O que não pode é olhar-se com ligeireza para os resultados financeiros, pois isso tem resultados negativos também nos plantéis, já que obriga a realizar muitas vendas, o que ‘parte’ o plantel e obriga a constantes reconstruções profundas. Uma coisa é ter de realizar vendas de 20 ou 30 milhões, outra é ter de fazer 100 milhões de vendas”, afirmou Fernando Gomes.
O dirigente portista avançou que o clube rescindiu, até 30 de junho, com 26 futebolistas que tinha emprestados, o que representa, segundo a mesma fonte um corte de 20 milhões anuais em custos com jogadores profissionais.
O administrador da SAD azul e branca afirmou ainda que a Uefa não colocou qualquer limitação à contratação de jogadores por parte do clube. O que a SAD colocou, “por opção de gestão e não por imposição” do organismo que gere o futebol europeu foi nunca ultrapassar em compras o valor relativo a vendas. Por essa lógica, o clube poderia, na última janela de transferências, ter investido até perto de 50 milhões de euros (vendas de André Silva e Ruben Neves). A única contratação foi, porém, o guarda-redes Vaná, por um milhão de euros.
 
Prejuízo cai quase 40%
 
O resultado líquido consolidado negativo da SAD do FC Porto em 2016/2017 foi dos já referidos 35,3 milhões de euros. Este prejuízo é 39,5% inferior aos -58,4 milhões do exercício anterior. “Vamos descer muito esta temporada”, afirmou Fernando Gomes.
Quanto ao EBITDA (cash-flow operacional) voltou a valores positivos, atingindo 22,7milhões de euros, contra -5,6 milhões em 2015/2016.
Os resultados operacionais (excluindo resultados com passes de jogadores) aumentaram 25,7 milhões, “combinando um aumento das receitas e uma diminuição dos custos”, segundo o comunicado à CMVM.
Os proveitos operacionais (excluindo proveitos com passes) crescem no período em análise 23,2 milhões de euros, atingindo quase 99 milhões. A principal razão foi o acréscimo das receitas obtidas pela participação nas provas europeias, que representaram 30,8 milhões de euros em 2016/2017, 31% do total das receitas da SAD na temporada, contra 11,1 milhões (15% das receitas totais) no exercício anterior.
Os custos operacionais (excluindo custos com passes de jogadores), reduziram-se em 2,5 milhões de euros, sobretudo pela diminuição dos custos suportados com jogadores e equipas técnicas.
No que se refere a rubricas relacionadas com passes de jogadores (amortizações e perdas por imparidade com passes e proveitos/custos com transações de passes), a SAD portista declara um saldo líquido de 4,5 milhões de euros, um decréscimo de 2,6 milhões face ao período homólogo.
 
Capital próprio preocupante
 
O capital próprio consolidado atingia, a 30 de junho último, o valor negativo de 9,1 milhões de euros, menos praticamente 35 milhões de euros. Este cenário, devido à incorporação do resultado líquido obtido no período, preocupa o administrador financeiro da SAD azul e branca. “Vamos ter de inverter rapidamente”, disse Gomes.
O ativo cresceu 3,38 milhões a 30 de junho de 2016, situando-se nos 378,4 milhões de euros. O comunicado explica esse cenário pelo “aumento do valor registado em caixa na data de fecho do exercício e do valor contabilístico do plantel, que atinge agora os 96,7 milhões de euros”.
O passivo total atinge os 387,56 milhões, mais 38,38 milhões face a 30 de junho de 2016. A SAD dos “Dragões” indica, porém, que “o passivo remunerado cresceu apenas 16, 59 milhões de euros”. O FC Porto liquidou a última prestação do financiamento para a construção do Estádio do Dragão, no exercício em análise pelo que este se encontra totalmente pago.
Os responsáveis pelo FC Porto realçam ainda o “contributo positivo das empresas que fazem parte do perímetro de consolidação na obtenção do resultado agora alcançado”.

 
Valores em milhares de euros
DEMONSTRAÇÕES DE RESULTADOS 2016/2017 2015/2016
Proveitos Operacionais excluindo proveitos com passes 98997 75811
Custos Operacionais excluindo custos com passes -121878 -124425
Resultado Operacional excluindo resultados com passes -22881 -48614
Amortizações e perdas por imparidade com passes -36781 -31556
Resultado Operacional -18370 -41512
Resultado Financeiro -15919 -15224
Resultados relativos a investimentos -113 -604
Imp. s/ o Rendimento + Interesses Minoritários -911 -1070
Resultado Consolidado do Período -35315 -58411
EBITDA 22751 -5651
Fonte: FC Porto, SAD
 
 
 
Portugal com menos vagas na Liga dos Campeões
 
A redução de custos com os plantéis principais de futebol é, segundo os analistas, uma necessidade dos principais clubes desportivos portugueses. Tanto mais num cenário em que as equipas portuguesas correm o risco de perder posições no ranking por clubes da UEFA, o que faz perigar as atraentes receitas oriundas da participação na Liga dos Campeões.
Portugal estava, no início de 2016/2017 no quinto lugar no ranking da UEFA (só abaixo das grandes potências Espanha, Alemanha, Inglaterra e Itália). Porém, os clubes nacionais perderam dois lugares, para Rússia e França, na temporada. Se o ranking na UEFA dos clubes portugueses se mantiver, a partir de 2018/19 só o campeão terá entrada direta na Liga dos Campões, o vice-campeão terá de passar por duas eliminatórias (terceira pré-eliminatória e playoff final de acesso) e o terceiro disputará a Liga Europa, a segunda competição de clubes da UEFA, com receitas de participação inferiores. No presente, os dois primeiros classificados da Liga Portuguesa têm entrada direta na Liga dos Campões e o terceiro vai ao playoff de acesso.

 

Aquiles Pinto aquilespinto@vidaeconomica.pt, 12/10/2017
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