Levantamento das moratórias pode abalar setor imobiliário ;

Banca preparada para o impacto
Levantamento das moratórias pode abalar setor imobiliário
A vigência das moratórias de crédito, para empresas e famílias, decorre até 30 de setembro de 2021.
O levantamento das moratórias ainda este ano pode resultar numa “bomba atómica” por via  do incumprimento em massa e do crédito malparado, afirma Luís Lima, presidente da APEMIP. Recorde-            -se que o Governo alargou a vigência das moratórias de crédito, para empresas e famílias, até 30 de setembro de 2021. A AHRESP propõe uma nova data: 30 de junho de 2022. A Associação Portuguesa de Bancos defende que novos ajustamento deverão ser dirigidos apenas aos devedores cuja atividade continue fortemente condicionada pela crise sanitária.

“Fui uma das primeiras pessoas a defender a implementação deste mecanismo logo no início da pandemia, e defendo que as moratórias deverão ser estendidas por, no mínimo, mais um ano do que o agora previsto, até que a situação económica das empresas e famílias possa estabilizar”, afirma à “Vida Económica” Luís Lima, presidente da APEMIP – Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal. “Estamos perante uma situação absolutamente catastrófica a nível sanitário, e os impactos no tecido económico e laboral são óbvios, pelo que as moratórias são para muitos uma verdadeira bomba de oxigénio que permite algum fôlego num período tão difícil”.
“Atendendo à incerteza que ainda existe, temo que o levantamento das moratórias ainda este ano resulte numa bomba atómica por via  do incumprimento em massa e do crédito malparado”, acrescenta Luís Lima.
A AHRESP defende a prorrogação das moratórias bancárias até 30 de junho de 2022, “apoiando assim a recuperação das empresas. A atual situação pandémica está a perdurar muito para além do que alguma vez seria expectável, tendo levado já a um segundo confinamento geral e encerramento legal das nossas atividades económicas. Estas circunstâncias obrigam à adoção de medidas excecionais, para que o tecido empresarial tenha condições de garantir a sustentabilidade dos negócios e a manutenção dos postos de trabalho”, defende a Associação da hotelaria, restauração e similares de Portugal.
A APB frisa que “um eventual prolongamento das moratórias não está a ser equacionado neste momento. Em qualquer caso, eventuais ajustamentos às medidas em curso terão que estar condicionados à existência de condições de flexibilidade do quadro prudencial e contabilístico semelhantes às que foram admitidas, pela EBA, na primeira fase da resposta à crise e deverão ser dirigidos apenas aos devedores cuja atividade continue fortemente condicionada pela crise sanitária e pelas medidas adotadas para a mitigação dos seus impactos”, informou fonte da APB à “Vida Económica”.
Desvalorização de imóveis em perspetiva

E se não houver renovação das moratórias quer no crédito à habitação quer nos arrendamentos comerciais? Luís Lima dramatiza: “Na pior das hipóteses, resultará no incumprimento do pagamento das prestações de crédito, originando um indesejado aumento da oferta. Atendendo à circunstância de haver pouca oferta habitacional para a classe média e média baixa, este poderia até parecer um cenário positivo, mas é exatamente o oposto, uma vez que a tendência será a da comercialização dos imóveis a qualquer preço, resultando numa desvalorização forçada do património imobiliário que, como assistimos na anterior crise, não traz nada de bom nem para o setor nem para a economia”.
Mais cautelosa é a posição da ABP: “A par do Banco de Portugal, a APB tem vindo a defender que o desenrolar das moratórias e a sua extinção devem ser adequadamente planeados, evitando efeitos de ‘cliff edg’. Este ‘soft landing’ deverá passar pela consagração de medidas de apoio aos devedores que, sendo viáveis, possam ainda não estar, findas as moratórias, em condições de gerar fluxos de tesouraria compatíveis com as suas obrigações creditícias”.
“Além do apoio à liquidez de empresas e famílias que os bancos têm proporcionado, a APB tem vindo a trabalhar com o Governo nas medidas para a recuperação e revitalização da economia, tendo apresentado contributos para o plano de recuperação da economia, dirigidos, em particular, ao reforço da autonomia financeira do tecido empresarial nacional e à salvaguarda da estabilidade financeira (por exemplo, soluções para recapitalização e recapacitação financeira de empresas, sendo ainda premente que se agilizem processos de insolvência e recuperação de créditos)”, acrescenta a mesma fonte da APB.

Bancos reforçam provisões
em dois mil milhões de euros

Mas estarão os bancos preparados para o impacto de tudo isto? Pelo que nos informou a APB, sim. “É admissível que, findo o período das moratórias, os impactos da recessão sobre o setor bancário se tornem mais visíveis. Contudo, importa referir que os bancos têm vindo a avaliar regularmente o risco associado a estes créditos, como se pode verificar pelo reforço bastante significativo que tem ocorrido ao nível das provisões que, desde o início da pandemia, registaram um crescimento de dois mil milhões de euros”.
“Devemos ainda ter presente que o setor bancário nacional está mais sólido e resiliente do que estava na crise anterior (rácio CET1 de 14,9% e rácio de solvabilidade de 17,6%), dispondo de uma maior capacidade para acomodar uma possível deterioração do risco de crédito e um eventual aumento dos ativos não produtivos”, conclui a APB.
VIRGÍLIO FRREIRA virgilio@vidaeconomica.pt, 11/02/2021
Partilhar
Comentários 0