Empresas investem 1,3 mil milhões de euros em I&D;

Bernardo Maciel, diretor-geral da YUNIT Consulting, afirma
Empresas investem 1,3 mil milhões de euros em I&D
“As empresas com quem trabalhamos deduzem ao IRC cerca de 60% do investimento realizado”, afirma Bernardo Maciel.
A insuficiência de recursos humanos especializados é a principal dificuldade na implementação de projetos de I&D, considera Bernardo Maciel, diretor-geral da YUNIT Consulting.
Os benefícios alcançados no SIFIDE, que podem atingir 60% do investimento realizado, permitem financiar atividades de I&D no ano seguinte. 
Segundo dados dos IPCTN, as empresas investiram 1,3 mil milhões de euros em I&D no ano de 2017, aproximando-se do máximo verificado em 2009. 
Vida Económica - Que benefícios fiscais traz o SIFIDE às PME?
Bernardo Maciel - O SIFIDE é uma ferramenta que incentiva as empresas a investir continuamente na sua atividade de Investigação e Desenvolvimento (I&D). Pelo modelo de aplicação deste benefício fiscal, o investimento realizado num ano permite financiar as atividades de I&D no ano seguinte. Desta forma, as empresas vão aumentando a sua atividade de pesquisa e desenvolvimento para fazerem um melhor aproveitamento financeiro da medida.
Considerando os valores publicados pela Agência Nacional de Inovação (ANI), verificamos que as empresas obtêm um benefício fiscal de 48% do investimento apresentado. Por contraponto, as empresas com quem trabalhamos deduzem ao IRC cerca de 60% do investimento realizado.
No que diz respeito à distribuição da despesa por rubricas, os dados dos nossos clientes estão em linha com a informação resultante dos Inquéritos ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional (IPCTN): 82% da despesa decorre dos custos com pessoal e respetivas despesas correntes. Relativamente aos nossos clientes, a despesa seguinte decorre da aquisição de ativos tangíveis relacionados com os trabalhos de I&D. As despesas associadas à aquisição de serviços a Entidades Não Empresariais do Sistema de Investigação e Inovação (ENESII) tem sido pouco representativa dos investimentos dos clientes com quem trabalhamos.
 
VE - Tendo em conta o tecido empresarial português, quais os setores de atividade em que a I&D está mais presente?
BM - Tendo em consideração os dados dos IPCTN, as empresas investiram 1,3 mil milhões de euros em I&D no ano 2017, aproximando-se, depois de ultrapassados os efeitos da crise, do máximo verificado em 2009. 
As empresas que mais investem em I&D realizam atividades de consultoria e programação informática (11,3%); têm equipas alargadas de recursos humanos altamente especializados que desenvolvem, continuamente, novas tecnologias. Muitos destes desenvolvimentos beneficiarão, posteriormente, as empresas industriais. Ou seja, trata-se de um setor de extrema relevância no tecido empresarial português e com provas dadas a nível internacional.
De notar que as empresas que prestam Serviços Financeiros continuam a ter uma representatividade relevante (9,7%), contribuindo para o elevado investimento em I&D do setor das Tecnologias de Informação e Comunicação.
A 3.ª atividade a contribuir para o volume de despesas I&D diz respeito a empresas que realizam atividades de investigação científica e de desenvolvimento (8,1%). A fabricação de produtos farmacêuticos representa 7,7% e é a primeira atividade industrial da lista.
De forma resumida, as atividades de serviços contribuem com 57% do investimento em I&D e a indústria transformadora com 40%.
Apesar de serem estes os dados oficiais para efeitos da quantificação do investimento em I&D, internacionalmente podemos apresentar outro ponto de vista desta matéria. Os dados publicados pela Agência Nacional de Inovação indicam um investimento em I&D apurado em 2016 de 436MJ.
Para as empresas que usufruem de SIFIDE, verifica-se uma representatividade de 60% do setor industrial, seguida de 15% dos serviços de Informação e Comunicação. Em maior pormenor, verifica-se que as empresas que prestam estes serviços são as mais representativas e que a fabricação de produtos farmacêuticos é a 2.ª atividade com maior peso.
 
VE - Quais as principais barreiras de acesso ao SIFIDE? 
BM - Na abordagem que a YUNIT Consulting faz ao mercado, verificamos que as empresas se queixam de falta de tempo para prepararem o processo do SIFIDE. 
Normalmente, é a Direção Financeira que toma a iniciativa de implementar o SIFIDE, mas a “defesa” dos projetos requer competências técnicas de equipas que estão normalmente ocupadas em tarefas mais prioritárias para a empresa. 
Por outro lado, quando as empresas reconhecem as suas limitações e contratam consultores para as apoiar, continua a existir desconfiança quanto à capacidade de pessoas externas à organização conseguirem descrever, de forma fidedigna, os trabalhos realizados.
Apesar de nós conseguirmos descrever projetos que traduzem de forma correta a realidade dos nossos clientes recorrendo à descrição destes em reunião, sentimos a falta de registos para consubstanciar melhor os trabalhos realizados.
Insuficiência de recursos humanos
 
VE - Quais as dificuldades que as empresas encontram na implementação de atividades de I&D?
BM - As atividades de I&D requerem equipas com uma dedicação considerável. Assim, a principal dificuldade deve-se à insuficiência de recursos humanos dedicados à realização das tarefas de I&D. Na maior parte dos casos, as equipas têm de dar resposta às atividades correntes da empresa, relegando para segundo plano as tarefas de I&D. As empresas têm prazos a cumprir perante os clientes e as atividades de I&D, porque pretendem dar resposta a problemas técnicos mais profundos, de mais difícil resolução, e não têm reconhecido um benefício imediato.
Verificamos que as empresas são reativas. Muitos dos desenvolvimentos são realizados para dar resposta a requisitos de clientes e não como antecipação das necessidades destes. 
Para o sucesso das empresas, num mercado tão concorrencial, é determinante que estas evoluam na cadeia de I&D para desenvolverem a capacidade de antever as necessidades dos clientes. Esta transformação passará pela implementação de processos de gestão da Investigação, Desenvolvimento e Inovação.
 
VE - Qual a importância da Inovação para o desenvolvimento de uma empresa?
BM - O sucesso de uma empresa mede-se pela sua capacidade de inovar, de forma contínua, os seus produtos, serviços e processos.
A competência com que uma empresa dá resposta aos desafios mede-se pela reutilização que faz dos conhecimentos gerados, quer pelas suas equipas, parceiros, clientes ou fornecedores. 
Inovação gera inovação!

Candidaturas 
ao SIFIDE com taxa de aprovação superior a 90% 
 
Os resultados oficiais da Entidade Gestora, a Agência Nacional de Inovação (ANI), mostram, para 2015, uma taxa de sucesso para as 1169 candidaturas apresentadas de 95%. Em relação ao investimento, a taxa de aprovação é de 76%. Para o mesmo ano, os números da YUNIT Consulting são 100% e 99,6%, respetivamente.
Os números gerais da ANI, para 2016, ainda são provisórios, faltando concluir a avaliação de 31 das 1318 candidaturas. Os números adiantados por esta entidade indicam uma taxa de aprovação para as candidaturas de 91% e de 72% para o investimento; em 2016, a YUNIT Consulting teve taxas de aprovação de 100% e 98%, respetivamente.

Susana Almeida, 17/04/2019
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