“O futuro da água passa pela sua valorização enquanto recurso”;

Miguel Lemos Rodrigues, presidente da Águas de Gaia, considera
“O futuro da água passa pela sua valorização enquanto recurso”
“O futuro da água passa pela sustentabilidade e pela sua valorização enquanto recurso, utilizando-a e gerindo-a de forma responsável”, afirma Miguel Lemos Rodrigues, presidente da Águas de Gaia.
Segundo dados da ERSAR, os desperdícios atingem cerca 172 milhões de m3 de água, o que corresponde a um prejuízo de 85,5 milhões de euros em termos nacionais. “Estamos muito confiantes que continuaremos a reduzir as perdas de água e que, muito em breve, atingiremos mínimos históricos e que nos colocará no patamar das empresas mais eficientes”, acrescenta.
Vida Económica – Qual é o balanço da atividade da Águas de Gaia relativo a 2020 e quais as perspetivas para 2021?
Miguel Lemos Rodrigues - No ponto de vista dos resultados, como sabemos a crise sanitária teve reflexos diretos na economia, tendo-se refletido de forma bastante significativa na quebra de faturação no setor não doméstico.
No entanto, e apesar de termos tido e de continuarmos a ter uma visão cautelosa nas nossas previsões, mantemos a ambição de investir em projetos importantes e mobilizadores para a nossa empresa.
Em 2021, continuaremos o caminho da transição digital, a melhoria dos serviços de atendimento ao cliente, a modernização das nossas redes de abastecimento de água e saneamento, daremos continuidade ao plano integrado de redução de perdas, iniciaremos o nosso projeto instalação de contadores inteligentes e será também um ano muito importante para o futuro da empresa com o lançamento do concurso para a requalificação do edifício sede da empresa, contemplando a construção do novo edifício técnico, que criará melhores condições de trabalho, mais eficiência e será energeticamente sustentável.

VE – Que se pode dizer da qualidade da água da torneira?
MLR - A água da torneira é de excelente qualidade! No nosso caso é 100% segura para consumo humano e permanentemente analisada.
Para além disso a água da torneira é mais barata que a garrafa engarrafada e mais amiga do ambiente! De facto, beber água da torneira é simultaneamente dizer “não” ao plástico descartável e contribuir para a redução das emissões de poluentes atmosféricos.
A água é captada na albufeira de Crestuma-Lever, no Rio Douro e é tratada na ETA de Lever, considerada das melhores estruturas do género na Europa e que, sob a gestão da Águas de Douro e Paiva, é responsável pelo tratamento de água para cerca de milhão e meio de habitantes do Grande Porto.

VE – Como se controla o desperdício e perdas de água? Isso está quantificado?
MLR - Temos assumido um conjunto de investimentos e inovações que colocam a empresa num patamar de excelência. Por um lado o nosso ambicioso programa de redução de perdas de água e água não faturada ou, por exemplo, a utilização inédita e inovadora de tecnologia para detetar fugas de água por satélite, ou ainda a introdução de sistemas de telemetria, a sensorização e introdução em toda a rede de abastecimento de água e saneamento de sistema de telegestão. Por outro lado, a inovação e a tecnologia ao serviço da gestão e tomada de decisões, do qual destaco o nosso sistema de informação geográfica e a utilização de KPI de atualização diária, sistemas com os quais é possível fazer uma eficiente gestão de ativos, mas também tomar melhores decisões.
Segundo os últimos dados da ERSAR, os desperdícios atingem cerca de 172 milhões de m3 de água, o que corresponde a um prejuízo de 85,5 milhões de euros em termos nacionais. Há, pois, ainda um longo caminho a fazer, mas a boa notícia é que tem sido registado uma enorme evolução em muitos dos sistemas. Posso garantir que estamos a fazer a nossa parte, e estamos muito confiantes, que continuaremos a reduzir as perdas de água e que muito em breve atingiremos mínimos históricos e que nos colocará no patamar das empresas mais eficientes.

VE – Que fatores determinam o preço da água?
MLR - Eu defendo que as entidades gestoras têm que ser financeiramente equilibradas, economicamente sustentáveis e com práticas de recuperação integral de custos ao mesmo tempo que os preços no consumidor devem ser economicamente justos e acessíveis, ou seja, diria que, se existem tarifas desequilibradas devem ser corrigidas. Mas, se, por outro lado, garantem o equilíbrio, então não devem ser aumentadas. Na realidade, o setor é altamente regulado, isto significa que os tarifários são calculados com base nos estudos de viabilidade económica e financeira das empresas, pelo que a eficiência é também sinónimo de tarifas justas. Mas volto a dizer: é muito importante valorizar o recurso água!

VE – Como vê o futuro da água no curto, médio e longo prazos?
MLR - O futuro é o presente e, por isso, apesar de defender planos de gestão de médio e longo prazo, acredito que temos mesmo que antecipar soluções, porque do ponto de vista ambiental não podemos adiar decisões e ações. O que fizermos ou não fizermos hoje irá comprometer o futuro coletivo. Por isso, eu acredito que o futuro da água passa pela sustentabilidade e pela sua valorização enquanto recurso, utilizando-a e gerindo-a de forma responsável, e promovendo uma redução da procura pela via do aumento de eficiência, mas também diversificando as fontes de água, como sejam a reutilização de água residual tratada, a dessalinização da água do mar e o reaproveitamento de água pluvial para fins não potáveis.

Miguel Lemos Rodrigues participa na direção da Aqua Publica Europea

Miguel Lemos Rodrigues foi eleito e participa na direção da Aqua Publica Europea, a Associação Europeia de Operadores Públicos de Água e Saneamento, atualmente presidida por Bernard van Nuffel, presidente da Vivaqua, empresa de água e saneamento de Bruxelas. “O tema central da nossa luta coletiva é a gestão da água enquanto mecanismo de combate às alterações climáticas, bem como a necessidade de construir sociedades resilientes para o futuro, garantindo ao mesmo tempo serviços eficientes para todos os cidadãos, mas também para combater a poluição do nosso ambiente e a escassez dos nossos recursos, cumprindo o direito de acesso à água e aos serviços de saneamento e aproveitando o potencial da eficiência energética e da economia circular para se preparar para um mundo em mudança”, afirma Miguel Lemos Rodrigues.





Susana Almeida, 04/05/2021
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