Portugal tem margem de crescimento “muito promissora” na Austrália;

Miguel Rodrigues, responsável pelo Austrália 360º, considera
Portugal tem margem de crescimento “muito promissora” na Austrália
“Os consulados portugueses representados nas principais cidades poderão ter um papel crucial na identificação de oportunidades de negócio”, afirma Miguel Rodrigues.
Miguel Rodrigues concluiu, ao volante da sua Honda Africa Twin Adventure 1100, o “Austrália 360º” dedicado ao navegador português Cristóvão de Mendonça. Após percorrer aproximadamente 16 000 kms em 50 dias, numa grande aventura que incluiu a visita à diáspora portuguesa em Melbourne, Sydney e Perth, Miguel faz um balanço “extremamente positivo”.
“Sendo este país uma economia forte e que tem capacidade para grande consumo, e tendo nós tantos produtos de excelência, estou convicto que temos uma margem de crescimento muito promissora”, afirma Miguel Rodrigues.
Vida Económica - Que balanço faz da expedição de 360º a Austrália?
Miguel Rodrigues -
O balanço que faço é extremamente positivo, pois foi uma viagem bem conseguida, onde foram atingidos todos os objetivos a que me propus. Se bem se recordam, este projeto surge do sonho de divulgação da descoberta da Austrália feita por Cristóvão de Mendonça, 250 anos antes do Capitão Cook. Sonho que se efetivou pela minha circum-navegação terrestre deste território e partilha com a comunidade portuguesa junto da qual tive uma recetividade fantástica.

 VE - Quais foram os maiores riscos que enfrentou?
MR -
Por mais estranho que pareça, a minha resposta vai para os animais, vivos e mortos!
Logo que iniciei a viagem, deparei-me com vários tipos de animais mortos na estrada por atropelamento, maioritariamente cangurus mas também koalas, o que, como se entenderá, para uma mota potencia grandemente os riscos na estrada. Acresceram os abutres de grande porte, que, como imaginarão pelo que descrevi atrás, estão carregados de alimento na estrada, e só à passagem da mota, é que eles dão início à descolagem, que é sempre lenta e por vezes, acreditem, chegamos a tocar-lhes.
Outro risco “quente” são os incêndios. As ignições são maioritariamente de causas naturais e o fogo propaga-se a uma velocidade estonteante, puxado pelo vento, que chega a fazer o fogo cruzar as estradas e, como podem imaginar, de repente podemos ver-nos envolvidos pelas chamas.
A tudo isto juntam-se os perigos do desfrutar das praias, com os perigos sempre assinalados e não visíveis. Tubarões, crocodilos, anémonas, etc…

VE - De que forma foi recebido pela comunidade portuguesa?
MR -
Da forma mais calorosa que se poderia esperar!
Em todas as cidades onde me encontrei com a diáspora, fui surpreendido pela forma entusiástica e organizada com que me receberam.
O meu orgulho em ser português aumenta sempre que tenho a felicidade de estar com portugueses fora do país. Estas pessoas foram inexcedíveis para bem me receber e me potenciar a boa experiência que foi esta expedição.
Como sabem, o mote desta viagem, expedição e aventura, foi a comemoração dos 500 anos da chegada de Cristóvão de Mendonça à Austrália. Esta parte da nossa história, embora muito pouco conhecida pelos portugueses residentes em Portugal, é dominada com grande profundidade e orgulho pelos nossos compatriotas a viver neste grande país, tendo sido alvo de forte comemoração no passado mês de fevereiro, junto desta comunidade.
Não podia, assim, haver maior consonância, fui recebido por gente que comemora o mesmo que eu, e com o mesmo orgulho.

“O Made in Portugal é inexistente!”
VE - Com base na observação que fez no terreno, acha que o mercado australiano tem um grande potencial,  ainda pouco explorado, para os produtos portugueses?
MR - Austrália é uma sociedade de forte pujança económica, onde o consumidor tem uma apetência por produtos europeus bastante grande. O “Made in Portugal” é inexistente!
Sendo este país uma economia forte e que tem capacidade para grande consumo, e tendo nós tantos produtos de excelência, estou convicto que temos uma margem de crescimento muito promissora. É certo que a distância será sempre talvez o maior obstáculo.
 
VE - A comunidade portuguesa pode apoiar as exportações dos produtos nacionais?
MR -
Aqui parece-me mal formulada a pergunta… não deveria ser: a comunidade portuguesa pode apoiar as importações dos produtos nacionais?
Não sei responder com certeza à questão. Mas estou ciente que a comunidade portuguesa é conhecedora das oportunidades de negócio, e que a capilaridade dos consulados portugueses representados nas principais cidades poderá ter um papel crucial na identificação de oportunidades de negócio.
Haveria, talvez, que, inicialmente, fazer um levantamento junto da comunidade, dos empresários, por segmentos, e começar com eles a identificação de oportunidades para potenciar a colocação dos produtos portugueses.
 
VE- Apesar da relação afetiva, o interesse da comunidade em investir em Portugal será limitado?
MR -
Sim, é muito limitado, pelo que percebi junto destas pessoas, a distância e a pouca frequência de visita a Portugal fazem com que o nosso país não seja o foco para investimentos.
Uma coisa mais estranha para mim foi perceber junto das pessoas portuguesas que conheci na Austrália que nenhuma delas, em algum momento, manifestou vontade em voltar para Portugal. Fiquei consciente de que a Australia, recebe e faz sentir bem todos os emigrantes e que rapidamente as pessoas como que se sentem em casa.
22/06/2022
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