Programas de requalificação permitem responder às necessidades do mercado;

Luís Manuel Ribeiro, presidente do CESAE Digital, considera
Programas de requalificação permitem responder às necessidades do mercado
O CESAE Digital tem a preocupação de trabalhar em parceria com as empresas - refere Luís Manuel Ribeiro.
“As tecnologias de informação e comunicação tornaram-se essenciais para qualquer empresa” – afirma Luís Manuel Ribeiro. Em entrevista à “Vida Económica”, o presidente do CESAE Digital destaca a importância dos programas de requalificação para o aumento da empregabilidade e resposta às novas necessidades das empresas.
O CESAE Digital forma mais de oito mil pessoas por ano e tem vindo a reforçar a cooperação com as empresas na vertente da qualificação dos recursos humanos.


Vida Económica – Como carateriza a atual situação do mercado, no que se refere à formação profissional?
Luís Manuel Ribeiro -
Ainda que não tenhamos atingido os níveis de qualificação que ambicionamos em Portugal, a realidade é que nas duas últimas décadas houve um grande crescimento no que às qualificações dos Portugueses diz respeito. Temos uma cada vez maior percentagem de portugueses com o 12º ano de escolaridade, com formação de ensino superior, cada vez mais especializados com os graus de mestres e de doutores, e jovens com graus de qualificação profissional. O problema é que, por um lado, as características dos postos de trabalho dos setores mais tradicionais da nossa economia não conseguiram acompanhar o ritmo de crescimento das qualificações e, por outro, este aumento das qualificações fez crescer a ambição e o que são as expetativas das pessoas. Em períodos de dinamismo económico há setores que não são atrativos, não significando que só os setores mais operacionais têm dificuldade em encontrar mão de obra qualificada, pois existem outros, como os serviços intensivos em conhecimento, que não têm pessoas qualificadas em número suficiente. É aqui que entram os programas de requalificação e em particular o nosso Digital Reskilling. Serão sempre a melhor resposta, para este tipo de necessidades, sustentados no princípio que se as pessoas tiveram capacidade para obter uma qualificação inicial, seja ela de nível secundário, pós-secundário ou superior, terão capacidade para se requalificarem nas áreas em que há mais necessidades de recrutamento. Trata-se de fazer o pleno entre aquilo que são as necessidades de recrutamento das empresas e a necessidade dos portugueses de ingressarem ou reingressarem no mercado de trabalho. Estes programas reorientam as pessoas para as áreas em que há mais necessidades. Há pessoas que têm qualificações elevadas, mas que não encontram postos de trabalho na sua área de formação inicial. Os programas de requalificação colmatam este problema.

VE – Isso pode ajudar a corrigir o desequilíbrio da concentração de recursos e da formação de jovens desempregados, em detrimento da formação em ativos?
LMR -
Não, porque estes programas de requalificação, como o Digital Reskilling, têm como objetivo esses dois tipos de públicos. Nós podemos intervencionar junto de uma empresa que sabe que daqui a um ano terá novos desafios, diferentes daqueles em que está a trabalhar no presente, desenvolvendo esse programa de requalificação, de forma antecipada, para que quando tiver de responder a essa necessidade diferente possa ter dentro da sua estrutura as pessoas indicadas para dar a resposta adequada. Por exemplo, uma empresa automóvel que tem uma determinada linha de montagem, em que ainda é bastante manual, mas que daqui a um ano vai fazer um investimento para introduzir mais tecnologia na sua produção, durante esse período de tempo é possível desenvolver programas de requalificação para que os trabalhadores se mantenham e não tenham de ser substituídos por outros.

TI são essenciais para qualquer empresa

VE – Considera mais urgente fazer a formação/requalificação de pessoas que estão a trabalhar, mas que devem ter mais qualificações ao nível das competências digitais, ou apostar na formação de jovens desempregados, dando-lhes competências que lhes permitam encontrar mais rapidamente emprego?
LMR -
As duas situações são emergentes, logo estão no mesmo patamar de prioridade. Podemos abordar essa temática numa lógica de que é mais uma das muitas necessidades que existem. Estão publicados estudos que nos identificam quais são as profissões de futuro, nos próximos 10/15 anos. A área das novas tecnologias figura nesse rol como uma das que apresentará maior procura. As tecnologias de informação e comunicação tornaram-se essenciais para qualquer empresa. A lógica de outsourcing para resposta rápida acabou. Por seu lado, as tecnológicas vão-se especializar ainda mais. O CESAE Digital é solicitado com frequência nesta área. A área digital será de aposta constante na próxima década, vamos ter de requalificar muito e rápido, até porque estes programas são, por natureza e exigência, muito intensivos. Ao mesmo tempo não podemos descurar os aspetos comportamentais. Apesar de não estarem definidos isoladamente em diversas unidades de formação, estes são trabalhados em cada uma das unidades de componente mais tecnológica. O nosso Digital Reskilling foi desenhado e está a ser operacionalizado, com sucesso, salvaguardando todas estas particularidades.

VE – O número de nacionais inscritos no ensino superior está a descer todos os anos. As vagas, em grande medida, são ocupadas por estudantes estrangeiros…
LMR -
Apesar de vermos que, todos os anos, há um aumento do número de vagas no ensino superior, a afirmação é verdadeira. É bom que Portugal tenha capacidade de atração de jovens estrangeiros, quer para ingressarem nas instituições de ensino superior como para o nosso mercado de trabalho. Temos consciência que é um aspeto positivo para o país, visto que quanto aos custos que temos com os imigrantes em Portugal e os ganhos, o saldo da balança é muito positivo. Há muito mais contribuições para o sistema de Segurança Social de trabalhadores originários de países terceiros. Termos o reconhecimento de muitos estrangeiros para fazer a sua formação em Portugal é também uma oportunidade para os fixar cá. Se o conseguirmos, sem dúvida que pode ajudar a mitigar um dos grandes problemas do nosso país, o nosso inverno demográfico.

VE – Há quem entenda que em Portugal a formação profissional está demasiado centrada em entidades públicas. No caso do CESAE Digital, não é essa a realidade?
LMR -
Não, o CESAE Digital é um exemplo de que essa é uma a perceção errada. No nosso caso, o Estado tem um parceiro privado, que é a AEP, e o representante do Estado é o IEFP. Existe um conselho de administração que é bipartido, onde dois administradores são indicados pelo IEFP e dois pela AEP. Não há o monopólio do público relativamente ao privado, nem o privado a substituir-se ao público. O que existe é uma partilha e uma operacionalização do que o público e o privado definem como objetivo a atingir. O IEFP é parceiro de outras entidades privadas representantes de diferentes setores da nossa economia.
Além do exemplo anterior, as tutelas da educação e do trabalho têm parceiros privados a desenvolver, respetivamente, cursos profissionais e cursos de aprendizagem.
A acrescer ao já referido, ainda existem linhas de financiamento comunitário a que as entidades formadoras privadas se podem candidatar.

Programas são construídos com as empresas

VE – No caso do CESAE Digital, as empresas podem influenciar os programas?
LMR -
Os nossos programas de (re)qualificação são sempre construídos com as empresas, no âmbito do catálogo nacional de qualificações, e sempre de acordo com as necessidades de momento de um conjunto de empresas. São os nossos parceiros que nos ajudam a estar na dianteira das necessidades das empresas e é com estas que vamos dando conta de quais são as necessidades presentes e futuras. No setor digital, temos de pensar sempre a uma distância de dois ou três anos. Por isso é que os programas de requalificação têm de ser curtos em termos de espaço temporal, numa lógica global de formação. Defendo que em todo o trajeto de formação devemos distinguir de forma clara o que são os conteúdos a abordar e as competências a adquirir. Ao nível da qualificação profissional, devemo-nos especializar no que são as verdadeiras necessidades dos mercados. Muitas vezes, através dos programas de requalificação, as pessoas desenvolvem competências para as quais pensavam não ter qualquer inclinação. No programa Digital Reskilling, mais de metade dos nossos formandos têm o ensino superior e vêm de áreas completamente diferentes das de IT. Esta atração em muito se deve à vasta rede de empresas parceiras que o CESAE Digital tem.

11/08/2022
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