Dezassete por cento;

Dezassete por cento
Pegue numa folha branca, caro leitor, e trace uma recta horizontal pondo um zero no meio.
Esta recta representa a actividade de cada um: para a direita do zero, positiva; para a esquerda, negativa.
Agora trace uma outra recta na vertical cruzando a da horizontal no meio (no zero).
Esta representa o impacto da actividade de cada um nos outros: acima do zero, positivo; abaixo, negativo.
E fica assim, caro leitor com a folha de papel dividida em quatro áreas.
O lado esquerdo de cima (vamos chamar zona A) são aqueles que geralmente fazem asneiras, mas não prejudicam os outros: são inúteis, só ocupam espaço.
O lado direito de cima (B) corresponde a quem faz o bem e beneficia os outros: é a zona dos inteligentes.
O lado direito em baixo (C) é dos indecentes (bandidos): fazem o bem para eles prejudicando os outros.
No lado esquerdo em baixo (D) estão os imbecis: aqueles que só fazem disparates para eles e que ainda por cima atrapalham os outros.
Nesta divisão em quatro is (inúteis + inteligentes + indecentes + imbecis) do bestseller As Leis Fundamentais da Estupidez Humana de Carlo Cipolla, as zonas dos inúteis e indecentes equilibram-se: há ganhos de uns e perdas de outros.
Mas há duas zonas desequilibradas que consequentemente fazem a diferença: a zona do lado direito em cima (B) dos inteligentes que fazem o bem para eles e para os outros, criando uma situação de win-win.
E a área do lado esquerdo em baixo (D) em que os imbecis fazem o mal a eles próprios e prejudicando os outros criam uma dupla perda: lose-lose. E estes encontram-se em todas as profissões.
Desde um empregado de loja que não atende bem os clientes (se não consegue sorrir não abra uma loja – provérbio chinês) e consequentemente afastando os clientes, levando à falência da loja e seu despedimento.
Até à academia quando em vez de deixar florescer o que prestigiando a universidade beneficia a minha imagem de marca, tento parar os colegas (nos EUA o poder está com quem faz, em Portugal com quem pára, disse-me um colega americano numa universidade pública).
Por serem desequilibradas, as duas zonas (perda-perda dos imbecis e ganho-ganho dos inteligentes) constituem a principal fonte de atraso ou progresso, fazendo estas sobretudo a diferença nas sociedades.
E a percentagem de cada uma em cada país varia. Não em função do intelecto (um dinamarquês é mais inteligente que um espanhol? ou sabe mais que um italiano?). Mas em função do temperamento.
A maior parte das funções aceita um intelecto de segunda, mas requer um temperamento de primeira (Peter Drucker). E o temperamento de um homem é o seu destino (provérbio da antiga Grécia).
Não é por se licenciar que um imbecil passa a inteligente. Um imbecil doutor não é um inteligente, é um imbecil… doutor. A imbecilidade vem da atitude, não do conhecimento. Do comportamento, não dos diplomas.
E a partir de agora, caro leitor, é simples: três / três / três.
De que depende a percentagem relativa de inteligentes (que fazem o bem a si e aos outros) comparada com a de imbecis (que se prejudicam a eles e aos outros)?
Sendo a acção que move montanhas, não as intenções, temos: 1) actividade, 2) pragmatismo, 3) perseverança: um americano faz numa semana mais que muitos “europeus” num mês.
Uma conclusão aliás já antiga de estudos após a IIª Guerra Mundial mas agora crescentemente verdadeira, quando (e novamente três) alguns “europeus” carecem crescentemente de 1) autoconfiança (cuja ausência leva à inactividade), 2) humildade (a aceitação de ideias de outros reforça o pragmatismo) e 3) esforço (versus preguiça) para não desistir.
E o que destrói a percentagem dos autoconfiantes + pragmáticos + esforço?
Também três causas: 1) os incentivos (p.e. a propagação do vício dos fundos europeus mais parecendo algumas associações empresariais simples “salas de chuto”, pôr dinheiro em empresas falidas que representam empregos do passado e não do futuro, leis laborais que protegem os “calões”, etc.); 2) a emigração (um povo de emigração é um povo de restos, uns lançam-se ao mar, outros ficam agarrados à terra – Fernando Pessoa); e 3) os votos (sendo Portugal o segundo país europeu com maior população no exterior só uma pequena percentagem está disposta a fazer centenas de quilómetros para votar).
Em síntese: três (incentivos + emigração + votos) determinam a percentagem de três (autoconfiança + humildade + esforço) que se traduzem também em três: actividade + pragmatismo + perseverança.
Tudo resultando no valor do rácio de inteligentes (fazem o bem beneficiando os outros) versus o de imbecis (cuja inação ou acção prejudica-os a eles e aos outros).
E se traduz, em o caro leitor se sentir sim ou não, mais ou menos, rodeado de idiotas (bestseller de Thomas Erikson).
Imagine um país em que 1/3 não quer trabalhar, 1/3 está convencido (vítima da lavagem ao cérebro em conluio de alguns políticos e media) que não precisa de trabalhar e que dos outros 1/3, metade emigrou (por exemplo Portugal que segundo a OCDE é o país europeu, depois de Malta, com maior percentagem de população emigrada: todos os anos 2% da população activa).
Quantos ficam? Para juntamente com os fundos europeus sustentar os 100%? Pois é: Dezassete por cento, caro leitor.
A matemática é simples. Para fazer contas à sua vida. Perceber onde está. E como agir cá dentro. O que fica para um próximo artigo.

P.S.: Recomendo vivamente a leitura dos dois livros.
Vasconcellos Sá, 28/10/2021
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