“Sistema fiscal perdeu lógica e é fruto do improviso”
“Não é com cativações e consequente degradação dos serviços públicos, cortes no investimento, medidas extraordinárias e engenharia orçamental criativa que se põe o país a crescer” – afirmou Cavaco Silva. O ex-Presidente da República interveio na Universidade de Verão do PSD, que decorreu há dias em Castelo de Vide, e foi crítico em relação ao rumo do país.
“O nosso sistema fiscal perdeu lógica e é fruto do improviso” – afirmou. E alertou que Portugal se arrisca “a ser remetido para a cauda da União Europeia” no que se refere ao crescimento.
Para Cavaco Silva, em países como França e a Grécia “a realidade tirou o tapete á ideologia”.
“Os governos dos países da zona euro, ao chegarem ao poder, podem começar com alguns devaneios revolucionários mas acabam por perceber que a realidade tem uma tal força que, ou através do aumento de impostos indiretos que anestesiam os cidadãos, cortes nas despesas públicas de investimento, medidas pontuais extraordinárias e cativações das despesas correntes e consequente deterioração serviços públicos ou contabilidade criativa, acabam sempre por conformar-se com as regras europeias de disciplina” – afirmou.
Segundo referiu, a realidade “tem uma tal força contra a retórica dos que, no Governo, querem realizar a revolução socialista, que eles acabam por perder o pio ou fingem apenas que piam, mas são pios que não têm qualquer realidade e refletem meras jogadas partidárias”.
“Aqueles que ainda piam, fingem que piam mas não atribuam a esses pios qualquer credibilidade porque não são mais do que jogadas partidárias“, salientou.
Seguir o exemplo que chega
de França
Como bom exemplo, Cavaco Silva apontou a política de comunicação Presidente francês, Emmanuel Macron que optou por cortar o acesso generoso dos jornalistas políticos ao Eliseu”, dizendo não à promiscuidade no relacionamento com jornalistas e recusando fazer deles os seus “confessores”.
Para o anterior Presidente, a políítca de Emmanuel Macron contrasta com a verborreia frenética da maioria dos políticos europeus dos nossos dias, ainda que não digam nada de relevante”, acrescentou, e que “não passa pela cabeça de ninguém que telefone a um jornalista para lhe passar uma informação”.
Retrocesso da transparência
da democracia
Entre os exemplos negativos, Cavaco Silva lamentou a forma como o Governo vetou três indicações do Banco de Portugal e do Tribunal de Contas para o Conselho de Finanças Públicas (CFP).
No caso do CFP, considerou tratar-se de um “retrocesso da transparência da nossa democracia” se “o poder político conseguir controlar estas entidades” e até já há “vozes credíveis” que dizem que “a censura está de volta”, afirmou.
“Confesso que nunca imaginei que as propostas do Banco de Portugal e do Tribunal de Contas pudessem não ser aceites pelo Governo de Portugal”, acrescentou Cavaco Silva.