Países da CPLP representam mercado de 250 milhões de consumidores
Um número crescente de empresários brasileiros está a olhar para fora do Brasil e a procurar negócios em Portugal, Angola e Moçambique – afirma Mário Costa. Em entrevista à “Vida Económica”, o presidente da União de Exportadores da CPLP destaca o potencial dos mercados da lusofonia, com um total de 250 milhões de consumidores.
As oportunidades de exportação e investimento vão estar em análise no Fórum da União de Exportadores da CPLP que irá decorrer em Vila Real a 22 e 23 de setembro.
Vida Económica – Quais são os objetivos do próximo fórum que vai decorrer em Vila Real?
Mário Costa – Ligar negócios, aproximar empresários, potenciar parcerias e mostrar oportunidades concretas de investimento no espaço da CPLP. Vila Real será, durante uma semana, a casa comum de todos quantos querem fazer negócios em português, nos quatro cantos do mundo. Queremos que este fórum seja um sucesso para o aprofundamento das relações económicas e comerciais no espaço da lusofonia.
VE – Que importância atribui aos países de lingua portuguesa enquanto mercados de exportação?
MC – Um aspeto que quero sublinhar é oi seguinte a UE-CPLP não é uma organização portuguesa, é uma associação empresarial que nasce no seio da Confederação Empresarial da própria CPLP, ou seja, a minha perspetiva não é desenhada a partir de Lisboa, mas sim a partir de todos os países da Comunidasde. Na União dos Exportadores, interessa-nos todos os mercados de língua portuguesa, que são crescentemente importantes entre si. Trabalhamos, diariamente, para aumentar as trocas comerciais e o investimento entre Brasil e Angola, entre Moçambique e Timor, entre Cabo Verde e Portugal, entre São Tomé e Guiné Bissau e entre todas as combinações possíveis destes países. No incremento do comércio e investimento entre todos estes países que partilham a língua portuguesa, está uma chave de ouro para o crescimento económico e para o emprego qualificado. Juntar quem tem capital, a quem tem recursos, a quem tem know-how é um modelo de desenvolvimento partilhado que é win-win, que é virtuoso e que deve ser estimulado e acarinhado pelos governos de todos os países da CPLP, e pela própria CPLP enquanto organização internacional.
VE – Existem demasiados obstáculos e barreiras alfandegárias às trocas comerciais entre os países da CPLP?
MC – Esta realidade tem a vindo a melhorar porque os empresários não ficam de braços cruzados e a realidade acaba por ser o melhor antídoto contra práticas protecionistas. Quando há bom investimento e vontade de fazer parcerias, quando os empresários apostam em relacionamentos de longo prazo, em transferência de tecnologia e em partilha de ganhos os benefícios para todos são muito maiores do que as barreiras e os obstáculos que possam surgir!
VE – Quais são os riscos inerentes aos mercados da lusofonia e de que forma devem ser geridos?
MC – Diria que não existem riscos específicos, mas sim antes vantagens evidentes, como a mesma língua, uma base cultural comum e uma empatia natural entre os mercados da CPLP. As empresas para exportarem e investirem além-fronteiras precisam de competências diversas, de músculo financeiro, de recursos humanos habilitados, etc, e precisam de reduzir riscos cambiais, custos de contexto diversos, de contar com pautas aduaneiras exigentes, etc, mas isso são regras gerais que se aplicam a todos os mercados. Os mercados de língua portuguesa são mercados naturais para os países da CPLP
VE – Além das exportações os mercados da CPLP apresentam também boas oportunidades em termos de importações?
MC – Apresentam boas condições para se fazerem negócios e para se estabelecerem parcerias. O mundo é cada vez mais global, mais complexo, mais interligado e interdependente. Quanto melhor uso fizermos desta nossa língua comum, que abre portas, que permite dialogar de forma franca e construir pontes, melhor triunfaremos porque temos esta característica que nos distingue de todos os outros. Somos mais de 250 milhões de consumidores que falamos português, nos quatro cantos do mundo. Não aproveitar este potencial é olhar para a galinha dos ovos de ouro e fingir que ela não está lá! Que sentido isso faz?
VE – Pela dimensão, o Brasil será sempre o maior mercado. Mas continua a ser um país muito difícil para os exportadores?
MC – O Brasil é um país, tradicionalmente, protecionista. Todos ganharíamos com a maior abertura desse mercado. Mas quero chamar a atenção para a quantidade crescente de empresários brasileiros que olham agora para fora do Brasil e que procuram desenvolver negócios em Portugal, em Angola, em Moçambique e em outros mercados da CPLP. Mais do que os obstáculos devemos olhar para as oportunidades!
VE – As empresas portuguesas devem estar atentas às linhas de apoio da União Europeia aos países ACP?
MC – As empresas portuguesas e todas as empresas do espaço lusófono devem estar atentas a essas e outras linhas, designadamente, das multilaterais financeiras. Se as empresas portuguesas têm know how, mas não têm capital, devem procurar parcerias para poderem concorrer a essas linhas. Se as empresas angolanas têm capital, mas não têm capital humano capacitado para o efeito, devem procurar parcerias que garantam uma efectiva transferência de competências. E por aí adiante!