“As empresas têxteis decidiram não desistir”
O aumento das exportações e o nível elevado de emprego vão ser debatidos no Fórum da Indústria Têxtil, que vai decorrer no Citeve, em Famalicão, a 29 de novembro.
Em entrevista à “Vida Económica”, Paulo Vaz antecipa que o setor deve atingir este ano 5200 milhões de euros em exportações, o valor mais elevado de sempre, acima dos máximos atingidos antes da liberalização do comércio mundial.
Para o diretor-geral da ATP, o resultado obtido deve-se essencialmente às empresas exportadoras.
Em entrevista à “Vida Económica”, Paulo Vaz antecipa que o setor deve atingir este ano 5200 milhões de euros em exportações, o valor mais elevado de sempre, acima dos máximos atingidos antes da liberalização do comércio mundial.
Para o diretor-geral da ATP, o resultado obtido deve-se essencialmente às empresas exportadoras.
Vida Económica - Quais vão ser os temas em debate no próximo Fórum da Indústria Têxtil?
Paulo Vaz - Os temas principais vão ser a competitividade e o crescimento. Enquanto indústria, a têxtil e vestuário tem essa preocupação presente. Ser competitiva significa ter uma gestão cuidada e custos controlados para além de todas as questões de diferenciação, na cadeia de valor, de apresentar artigos valorizados e que incorporem inovação tecnológica. Continuamos muito focados e determinados em defender a competitividade do setor, porque, se não formos competitivos, não somos concorrenciais à escala global.
São temas que nos preocupam num contexto que para já é benéfico, feliz, em que a conjuntura tem sido positiva para o setor porque está ainda em crescimento. Mas nunca nos podemos acomodar às situações. E vemos com alguma preocupação que alguns dos fatores para a competitividade continuam sob grande pressão, nomeadamente o que se refere ao custo do dinheiro e ao financiamento das empresas, assim como ao custo do trabalho, que neste momento também começa a preocupar, uma vez que há escassez de mão de obra.
Os factores competitivos: custo de dinheiro, custo da mão-de-obra, custo da energia, que em alguns casos tem aumentos de cerca de 30%. E se tivermos um contexto fiscal que não é amigo dos negócios estamos, a colocar a competitividade em causa.
VE - Ao longo das edições anteriores, quais foram os momentos mais marcantes?
PV - Os momentos mais altos foram aqueles que de alguma maneira lançaram os planos estratégicos do setor, além da componente de discussão. Há também as análises prospetivas e nada melhor do que uma análise prospetiva para estruturar o que são os planos estratégicos que o setor tem vindo a desenvolver e todos eles foram lançados no fórum. Tem sido um local privilegiado para que o setor faça esse exercício estratégico e que demonstre não só ao poder, mas também à comunicação social, que é um setor que tem um caminho, que sabe para onde vai, que tem um conjunto de ações que o fazem conduzir nesse sentido e isso faz toda a diferença relativamente ao passado e que o transformou hoje num setor que é moderno, desenvolvido e que tem em vista o futuro.
VE - Apesar de ser um setor com forte vocação exportadora, a abertura ao exterior e a presença nos mercados externos é hoje mais acentuada?
PV - Hoje a abertura ao exterior é maior do que nunca: pelos números que nós temos, a abertura ao exterior ultrapassa os 70% daquilo que é a atividade produtiva das empresas e estamos falar de termos progredido cerca de 10 pontos percentuais face ao que era a década anterior. As crises que o setor passou ao longo da primeira década do século e que concluiu por volta de 2009 obrigaram a que as empresas fizessem grandes reestruturações e que reinventassem o seu negócio, de maneira a que pudessem ter outras alternativas e sobretudo uma solução para continuarem, sobreviverem e para crescerem, para que não passasse só por aquilo que era a dependência de algumas delas do mercado doméstico.
Além do Modtissimo, desde 2002, a associação começou a promover um conjunto de programas de internacionalização de forma regular para que as empresas pudessem estar coletivamente nas grandes feiras internacionais.
VE - Existe um peso muito grande do mercado espanhol, que representa 1/3 das exportações. Existe uma relação de cooperação e proximidade entre a Galiza e Norte de Portugal?
PV - Sem dúvida alguma. Era um objetivo estratégico do anterior plano que cumprimos em pleno. Desenvolvemos dois projetos de aproximação e desenvolvimento das relações com os nossos vizinhos da Galiza através da sua associação e isso aprofundou ainda mais aquilo que já era uma forte relação de negócio. É verdade que a Espanha representa 1/3 de tudo o que Portugal exporta para esse mercado. Uma boa parte é absorvida pela região da Galiza e por uma empresa que aí tem a sua sede, que é a Inditex. Mas também temos uma presença muito forte noutras regiões, como a região de Madrid ou a Catalunha, que são regiões que têm uma forte relação com a nossa indústria.
É uma relação que tem vindo a crescer ao longo dos últimos anos, que demonstra bem a integração das economias que existem entre os dois países e a facilidade com que hoje se fazem negócios. Para nós, é um mercado importante, que queremos acarinhar e desenvolver. Mas diria que é um mercado que poderá ter chegado ao seu nível de saturação porque não é muito saudável que um país dependa de um só cliente. Temos de fazer um esforço de maior diversificação, de maneira a que possamos não estar dependentes, eventualmente sujeitos a uma alteração menos positiva que possa existir em qualquer um desses mercados.
VE - O cenário que hoje temos de crescimento sustentado e de recorde de exportações era algo que se tornava provável face ao que foi debatido ao longo destes 20 anos no fórum?
PV - Surpreendeu-nos pela positiva. Apontámos no plano estratégico que ainda está em vigor até 2020 que teríamos como grande objetivo atingir os 5 mil milhões de euros de exportações no final de 2020. A verdade é que em 2016 já conseguimos superar essa barreira e possivelmente em 2017, como tudo indica, vamos bater todos os recordes que temos até ao momento, que é chegar muito perto ou até ultrapassar os 5,2 mil milhões de exportações. Também queremos voltar a crescer em termos de emprego e manter o cluster todo integrado, estruturado, sinérgico e dinâmico, é disso que dependem no fundo, as vantagens competitivas da nossa atividade.
VE - Os resultados que foram obtidos devem-se muito mais à iniciativa das empresas e à ação da associação e não tanto aos apoios públicos, quer do Governo, quer da União Europeia.
PV - O resultado do que sucedeu deve-se essencialmente às empresas. As empresas decidiram não desistir. Enfrentaram um conjunto de dificuldades dramáticas ao longo da primeira década do século. Mesmo assim, houve muitas que conseguiram transformar-se, reestruturar-se, reinventar-se e continuar. Isso tem a haver com a vontade de quem está dentro das empresas, uma atitude positiva de acreditar nas suas próprias capacidades e nas do país. Foi este setor, entre outros, que no momento mais difícil contribuiu para aumentar exportações, limpar as contas públicas, segurar emprego e dar novamente um alento à economia portuguesa. O país nunca deverá esquecer mais este contributo que a indústria lhe deu, mas parece que a memória é curta. Começamos a ver as habituais luminárias de Lisboa a defenderem as “start-ups”, as tecnológicas, o turismo, os serviços, e a esquecerem-se que se não fosse a indústria transformadora que, está no Norte, não tínhamos sequer hoje a confiança da comunidade internacional para nos continuar a emprestar dinheiro e para continuarmos a ter uma vida tranquila e minimamente organizada e satisfatória. Quer a classe política, quer os “media”, os líderes de opinião andam esquecidos disso, só falam de tecnológicas e de turismo.
Houve aqui também um papel muito importante da associação e que provavelmente nunca será totalmente reconhecido. Foi a Associação que conseguiu que a União Europeia alargasse por dois anos mais o período de desmantelamento dessa mesma liberalização.
Em primeira linha, os resultados foram efeito direto do esforço das empresas e, em segundo lugar, daquilo que são as suas organizações representativas, nomeadamente a ATP e o sistema científico e tecnológico que permitiu introduzir mais inovação e criatividade para permitir diferenciar produtos e serviços.
Paulo Vaz - Os temas principais vão ser a competitividade e o crescimento. Enquanto indústria, a têxtil e vestuário tem essa preocupação presente. Ser competitiva significa ter uma gestão cuidada e custos controlados para além de todas as questões de diferenciação, na cadeia de valor, de apresentar artigos valorizados e que incorporem inovação tecnológica. Continuamos muito focados e determinados em defender a competitividade do setor, porque, se não formos competitivos, não somos concorrenciais à escala global.
São temas que nos preocupam num contexto que para já é benéfico, feliz, em que a conjuntura tem sido positiva para o setor porque está ainda em crescimento. Mas nunca nos podemos acomodar às situações. E vemos com alguma preocupação que alguns dos fatores para a competitividade continuam sob grande pressão, nomeadamente o que se refere ao custo do dinheiro e ao financiamento das empresas, assim como ao custo do trabalho, que neste momento também começa a preocupar, uma vez que há escassez de mão de obra.
Os factores competitivos: custo de dinheiro, custo da mão-de-obra, custo da energia, que em alguns casos tem aumentos de cerca de 30%. E se tivermos um contexto fiscal que não é amigo dos negócios estamos, a colocar a competitividade em causa.
VE - Ao longo das edições anteriores, quais foram os momentos mais marcantes?
PV - Os momentos mais altos foram aqueles que de alguma maneira lançaram os planos estratégicos do setor, além da componente de discussão. Há também as análises prospetivas e nada melhor do que uma análise prospetiva para estruturar o que são os planos estratégicos que o setor tem vindo a desenvolver e todos eles foram lançados no fórum. Tem sido um local privilegiado para que o setor faça esse exercício estratégico e que demonstre não só ao poder, mas também à comunicação social, que é um setor que tem um caminho, que sabe para onde vai, que tem um conjunto de ações que o fazem conduzir nesse sentido e isso faz toda a diferença relativamente ao passado e que o transformou hoje num setor que é moderno, desenvolvido e que tem em vista o futuro.
VE - Apesar de ser um setor com forte vocação exportadora, a abertura ao exterior e a presença nos mercados externos é hoje mais acentuada?
PV - Hoje a abertura ao exterior é maior do que nunca: pelos números que nós temos, a abertura ao exterior ultrapassa os 70% daquilo que é a atividade produtiva das empresas e estamos falar de termos progredido cerca de 10 pontos percentuais face ao que era a década anterior. As crises que o setor passou ao longo da primeira década do século e que concluiu por volta de 2009 obrigaram a que as empresas fizessem grandes reestruturações e que reinventassem o seu negócio, de maneira a que pudessem ter outras alternativas e sobretudo uma solução para continuarem, sobreviverem e para crescerem, para que não passasse só por aquilo que era a dependência de algumas delas do mercado doméstico.
Além do Modtissimo, desde 2002, a associação começou a promover um conjunto de programas de internacionalização de forma regular para que as empresas pudessem estar coletivamente nas grandes feiras internacionais.
VE - Existe um peso muito grande do mercado espanhol, que representa 1/3 das exportações. Existe uma relação de cooperação e proximidade entre a Galiza e Norte de Portugal?
PV - Sem dúvida alguma. Era um objetivo estratégico do anterior plano que cumprimos em pleno. Desenvolvemos dois projetos de aproximação e desenvolvimento das relações com os nossos vizinhos da Galiza através da sua associação e isso aprofundou ainda mais aquilo que já era uma forte relação de negócio. É verdade que a Espanha representa 1/3 de tudo o que Portugal exporta para esse mercado. Uma boa parte é absorvida pela região da Galiza e por uma empresa que aí tem a sua sede, que é a Inditex. Mas também temos uma presença muito forte noutras regiões, como a região de Madrid ou a Catalunha, que são regiões que têm uma forte relação com a nossa indústria.
É uma relação que tem vindo a crescer ao longo dos últimos anos, que demonstra bem a integração das economias que existem entre os dois países e a facilidade com que hoje se fazem negócios. Para nós, é um mercado importante, que queremos acarinhar e desenvolver. Mas diria que é um mercado que poderá ter chegado ao seu nível de saturação porque não é muito saudável que um país dependa de um só cliente. Temos de fazer um esforço de maior diversificação, de maneira a que possamos não estar dependentes, eventualmente sujeitos a uma alteração menos positiva que possa existir em qualquer um desses mercados.
VE - O cenário que hoje temos de crescimento sustentado e de recorde de exportações era algo que se tornava provável face ao que foi debatido ao longo destes 20 anos no fórum?
PV - Surpreendeu-nos pela positiva. Apontámos no plano estratégico que ainda está em vigor até 2020 que teríamos como grande objetivo atingir os 5 mil milhões de euros de exportações no final de 2020. A verdade é que em 2016 já conseguimos superar essa barreira e possivelmente em 2017, como tudo indica, vamos bater todos os recordes que temos até ao momento, que é chegar muito perto ou até ultrapassar os 5,2 mil milhões de exportações. Também queremos voltar a crescer em termos de emprego e manter o cluster todo integrado, estruturado, sinérgico e dinâmico, é disso que dependem no fundo, as vantagens competitivas da nossa atividade.
VE - Os resultados que foram obtidos devem-se muito mais à iniciativa das empresas e à ação da associação e não tanto aos apoios públicos, quer do Governo, quer da União Europeia.
PV - O resultado do que sucedeu deve-se essencialmente às empresas. As empresas decidiram não desistir. Enfrentaram um conjunto de dificuldades dramáticas ao longo da primeira década do século. Mesmo assim, houve muitas que conseguiram transformar-se, reestruturar-se, reinventar-se e continuar. Isso tem a haver com a vontade de quem está dentro das empresas, uma atitude positiva de acreditar nas suas próprias capacidades e nas do país. Foi este setor, entre outros, que no momento mais difícil contribuiu para aumentar exportações, limpar as contas públicas, segurar emprego e dar novamente um alento à economia portuguesa. O país nunca deverá esquecer mais este contributo que a indústria lhe deu, mas parece que a memória é curta. Começamos a ver as habituais luminárias de Lisboa a defenderem as “start-ups”, as tecnológicas, o turismo, os serviços, e a esquecerem-se que se não fosse a indústria transformadora que, está no Norte, não tínhamos sequer hoje a confiança da comunidade internacional para nos continuar a emprestar dinheiro e para continuarmos a ter uma vida tranquila e minimamente organizada e satisfatória. Quer a classe política, quer os “media”, os líderes de opinião andam esquecidos disso, só falam de tecnológicas e de turismo.
Houve aqui também um papel muito importante da associação e que provavelmente nunca será totalmente reconhecido. Foi a Associação que conseguiu que a União Europeia alargasse por dois anos mais o período de desmantelamento dessa mesma liberalização.
Em primeira linha, os resultados foram efeito direto do esforço das empresas e, em segundo lugar, daquilo que são as suas organizações representativas, nomeadamente a ATP e o sistema científico e tecnológico que permitiu introduzir mais inovação e criatividade para permitir diferenciar produtos e serviços.