IFRS 9 altera modelo contabilístico nos produtos de crédito
A oferta de crédito colocado à disposição dos bancos europeus poderá sofrer variações, tendo em conta a entrada em vigor da nova norma contabilística IFRS 9, passando de um cálculo de provisões por perda incorrida a um de perda esperada. A agência de notação financeira Standard & Poor´s alerta que a nova contabilidade poderá impactar os modelos de negócio, designadamente ao nível das estratégias comerciais, como faz notar um trabalho publicado no jornal espanhol “Expansión”.
No novo contexto, poderá decorrer uma transferência de produtos de crédito a curto prazo para produtos de mais longo prazo, de modo a obter-se um resultado contabilístico mais favorável. De igual maneira, poderá assistir-se a movimentos em direção da obtenção de preços mais altos em certos tipos de operações – como créditos empresariais ou hipotecas – para compensar as maiores provisões que atrairiam. Neste caso, há o risco potencial de impacto na oferta de crédito bancário, nos preços e nos perfis de risco de determinados segmentos de negócio. Para já, os analistas defendem que ainda é muito cedo para se conhecer em concreto o impacto de uma norma como a IFRS 9, sendo quase impossível calcular qual o potencial aumento dos preços do crédito. No entanto, há consenso quanto ao facto desta norma implicar uma nova filosofia, já que o cálculo das provisões por perda esperada obriga a pensar constantemente em termos de futuro.
Importa ter em conta que a nova IFRS faz convergir todos os sistemas de contabilidade a nível europeu, mas as contas da banca da região da moeda única continuarão a ser submetidas a um modelo não comparável com o das entidades dos Estados Unidos, avisa a S&P. Considera que o novo modelo contabilístico vai resultar em novas complexidades, que resultarão numa confusão junto dos mercados. Um dos aspetos que confundirão os investidores será a falta de convergência entre os modelos contabilísticos da Zona Euro (IFRS 9) e dos Estados Unidos (em dois anos espera-se que seja aprovada uma nova regulação que atualize o atual modelo contabilístico, conhecido por GAAP). Ora, acontece que estes dois modelos têm como base enfoques contabilísticos totalmente diferentes, o que provocará uma quantidade desnecessária de nova documentação e pouca clareza no mercado.
Desvantagens para os investidores
As provisões por deterioração dos créditos e as principais métricas que são diretamente comparáveis criam desvantagens significativas para os investidores, chama a atenção a agência de notação financeira. Para reduzir o mais possível estes prejuízos, aponta para que os bancos sujeitos à IFRS 9 deem a conhecer aos mercados as suas estimativas de perdas de crédito durante toda a sua vida útil, ainda que a nova norma contabilística não o exija especificamente, reconhece a S&P.
À margem da comparabilidade entre setores financeiros de diferentes geografias, os analistas daquela agência admitem que a implementação deste novo normativo corre o risco de trazer uma divergência assinalável entre as contas das várias entidades. A partir de agora, cada empresa é responsável por estabelecer os seus próprios modelos para determinar quando um crédito passa da sua situação normal (com a provisão mínima) a vigilância especial (maior provisão).
Este mecanismo, para se saber quando há um aumento significativo do risco, conhecido pelas siglas em inglês SICR, será definido pelo conselho de administração de cada entidade, sob a supervisão das autoridades e dos reguladores nacionais. Estes fatores poderão limitar a capacidade da nova contabilidade revelar uma informação homogénea de cada entidade, pelo que a S&P acredita que uma das chaves para convencer os mercados será a vontade dos bancos de darem a conhecer as suas metodologias para calcular as perdas esperadas.
Impacto da norma na banca europeia
A Moody´s, uma outra agência de notação financeira, também tomou uma posição pública sobre o impacto da IFRS 9. Sem dúvida que este representará o mais impacto para a banca europeia, numa altura em que se preparam os próximos testes de “stress” por parte da Autoridade Bancária Europeia (EBA) e do Banco Central Europeu, ainda na primeira metade deste ano. Nos testes que estão a ser desenhados por aquelas duas entidades, um dos aspetos a que se submeterá o setor será a resistência a esta nova norma. Esta agência de rating espera que os rácios de capital do setor venham a perder, em média, entre 50 e 60 pontos base, tendo em conta o impacto da nova norma de provisões, ainda que os seus analistas antecipam que os resultados variarão muito em função de cada país e de cada entidade envolvida.
Os analistas desta agência admitem que os bancos portugueses, irlandeses, luxemburgueses, portugueses e suecos, face às descidas dos respetivos PIB, sofram os maiores impactos em resultado da nova norma. Por exemplo, os bancos suecos terão de fazer face a uma previsão de quebra no preço do imobiliário, como se tratasse de o rebentar de uma bolha, na ordem dos 41% a 56%, devendo estar preparados para um cenário deste tipo.
No entanto, estes cálculos não coincidem com uma análise da consultora norte-americana Alvarez & Marsal, a propósito dos testes de resistência, em que a norma IFRS 9 terá um impacto particularmente significativo sobre os bancos espanhóis e italianos. A banca espanhola sofrerá uma quebra até 226 pontos base nos seus rácios de capital, durante o primeiro ano de aplicação da nova norma contabilística (e poderá tornar-se ainda mais duro com o decorrer do tempo).
Entidades são resilientes
Há já algum tempo que a banca europeia está a trabalhar na preparação dos testes de resistência que levarão a cabo a Autoridade Bancária Europeia e o Banco Central Europeu, ainda na primeira metade deste ano e cujos resultados serão publicados no próximo mês de novembro. Os analistas da Moody´s admitem que os referidos testes serão consideravelmente piores do que os incluídos nas provas anteriores. No entanto, a boa notícia é que tudo aponta para que as entidades financeiras partam de uma situação bastante melhor, pelo que há condições para limitar os tais impactos esperados.
Acontece que as condições económicas mais duras dos testes de stress deste ano poderão conduzir a maiores impactos gerais no capital. Todavia, ao partir de níveis de capitalização substancialmente mais elevados (em 2016, o rácio CETI 2 médio era de 13,2%,frente aos atuais 14,6%), as referidas entidades poderão beneficiar de uma maior resiliência. Os analistas da Moody´s analisam os cenários macroeconómicos definidos pela EBA para o período de 2018 a 2020 e constatam as assunções para a evolução do PIB, do desemprego e para os preços do imobiliário, sendo bastante piores do que os indicadores para os testes de há dois anos.
A partir deste cenário e tendo em conta os atuais níveis de capitalização, espera-se que os rácios de solvência das entidades se situem em torno dos requerimentos regulatórios mínimos impostos pelo BCE, com variações entre os 9,5% e os 11%. A Moody´s acredita que a maioria das entidades revelará uma capacidade de resistência suficiente para se manter em níveis de solvência, incluindo nos piores cenários imagináveis.
Importa ter em conta que a nova IFRS faz convergir todos os sistemas de contabilidade a nível europeu, mas as contas da banca da região da moeda única continuarão a ser submetidas a um modelo não comparável com o das entidades dos Estados Unidos, avisa a S&P. Considera que o novo modelo contabilístico vai resultar em novas complexidades, que resultarão numa confusão junto dos mercados. Um dos aspetos que confundirão os investidores será a falta de convergência entre os modelos contabilísticos da Zona Euro (IFRS 9) e dos Estados Unidos (em dois anos espera-se que seja aprovada uma nova regulação que atualize o atual modelo contabilístico, conhecido por GAAP). Ora, acontece que estes dois modelos têm como base enfoques contabilísticos totalmente diferentes, o que provocará uma quantidade desnecessária de nova documentação e pouca clareza no mercado.
Desvantagens para os investidores
As provisões por deterioração dos créditos e as principais métricas que são diretamente comparáveis criam desvantagens significativas para os investidores, chama a atenção a agência de notação financeira. Para reduzir o mais possível estes prejuízos, aponta para que os bancos sujeitos à IFRS 9 deem a conhecer aos mercados as suas estimativas de perdas de crédito durante toda a sua vida útil, ainda que a nova norma contabilística não o exija especificamente, reconhece a S&P.
À margem da comparabilidade entre setores financeiros de diferentes geografias, os analistas daquela agência admitem que a implementação deste novo normativo corre o risco de trazer uma divergência assinalável entre as contas das várias entidades. A partir de agora, cada empresa é responsável por estabelecer os seus próprios modelos para determinar quando um crédito passa da sua situação normal (com a provisão mínima) a vigilância especial (maior provisão).
Este mecanismo, para se saber quando há um aumento significativo do risco, conhecido pelas siglas em inglês SICR, será definido pelo conselho de administração de cada entidade, sob a supervisão das autoridades e dos reguladores nacionais. Estes fatores poderão limitar a capacidade da nova contabilidade revelar uma informação homogénea de cada entidade, pelo que a S&P acredita que uma das chaves para convencer os mercados será a vontade dos bancos de darem a conhecer as suas metodologias para calcular as perdas esperadas.
Impacto da norma na banca europeia
A Moody´s, uma outra agência de notação financeira, também tomou uma posição pública sobre o impacto da IFRS 9. Sem dúvida que este representará o mais impacto para a banca europeia, numa altura em que se preparam os próximos testes de “stress” por parte da Autoridade Bancária Europeia (EBA) e do Banco Central Europeu, ainda na primeira metade deste ano. Nos testes que estão a ser desenhados por aquelas duas entidades, um dos aspetos a que se submeterá o setor será a resistência a esta nova norma. Esta agência de rating espera que os rácios de capital do setor venham a perder, em média, entre 50 e 60 pontos base, tendo em conta o impacto da nova norma de provisões, ainda que os seus analistas antecipam que os resultados variarão muito em função de cada país e de cada entidade envolvida.
Os analistas desta agência admitem que os bancos portugueses, irlandeses, luxemburgueses, portugueses e suecos, face às descidas dos respetivos PIB, sofram os maiores impactos em resultado da nova norma. Por exemplo, os bancos suecos terão de fazer face a uma previsão de quebra no preço do imobiliário, como se tratasse de o rebentar de uma bolha, na ordem dos 41% a 56%, devendo estar preparados para um cenário deste tipo.
No entanto, estes cálculos não coincidem com uma análise da consultora norte-americana Alvarez & Marsal, a propósito dos testes de resistência, em que a norma IFRS 9 terá um impacto particularmente significativo sobre os bancos espanhóis e italianos. A banca espanhola sofrerá uma quebra até 226 pontos base nos seus rácios de capital, durante o primeiro ano de aplicação da nova norma contabilística (e poderá tornar-se ainda mais duro com o decorrer do tempo).
Entidades são resilientes
Há já algum tempo que a banca europeia está a trabalhar na preparação dos testes de resistência que levarão a cabo a Autoridade Bancária Europeia e o Banco Central Europeu, ainda na primeira metade deste ano e cujos resultados serão publicados no próximo mês de novembro. Os analistas da Moody´s admitem que os referidos testes serão consideravelmente piores do que os incluídos nas provas anteriores. No entanto, a boa notícia é que tudo aponta para que as entidades financeiras partam de uma situação bastante melhor, pelo que há condições para limitar os tais impactos esperados.
Acontece que as condições económicas mais duras dos testes de stress deste ano poderão conduzir a maiores impactos gerais no capital. Todavia, ao partir de níveis de capitalização substancialmente mais elevados (em 2016, o rácio CETI 2 médio era de 13,2%,frente aos atuais 14,6%), as referidas entidades poderão beneficiar de uma maior resiliência. Os analistas da Moody´s analisam os cenários macroeconómicos definidos pela EBA para o período de 2018 a 2020 e constatam as assunções para a evolução do PIB, do desemprego e para os preços do imobiliário, sendo bastante piores do que os indicadores para os testes de há dois anos.
A partir deste cenário e tendo em conta os atuais níveis de capitalização, espera-se que os rácios de solvência das entidades se situem em torno dos requerimentos regulatórios mínimos impostos pelo BCE, com variações entre os 9,5% e os 11%. A Moody´s acredita que a maioria das entidades revelará uma capacidade de resistência suficiente para se manter em níveis de solvência, incluindo nos piores cenários imagináveis.