É preciso “bom senso” na utilização de plásticos na agricultura
Professor catedrático de anatomia patológica e diretor do Departamento de Patologia e Oncologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Manuel Sobrinho Simões foi considerado, em 2015, o patologista mais influente do mundo pela revista científica "The Patologist". É codiretor do i3S e diretor do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto. No IPATIMUP, investiga o diagnóstico, o prognóstico e a seleção de tratamento para o cancro da tiróide.
Num exclusivo à “Vida Económica” à margem do 14º almoço-conferência do ciclo “Conversas na Bolsa”, promovido pela Associação Comercial do Porto, o cientista lança o repto aos agricultores: é preciso “bom senso” na utilização de plásticos na agricultura.
Vida Económica – Veio aqui falar sobre o tema “Homo sapiens e a Sustentabilidade” e eu estava muito mais à espera de ouvir falar sobre saúde. Mas acabou por estabelecer uma ‘ponte’ para a agricultura e a sustentabilidade.
Manuel Sobrinho Simões – Pois claro que fiz. O meu medo é esse. É a saúde.
VE – Falou na utilização dos plásticos na agricultura. Como olha para a agricultura nos tempos de hoje, em que o uso de plásticos é intensivo, em estufas, embalagens e outras utilizações?
MSS – Os plásticos não desaparecem. Eu diminuía ao máximo o plástico, em termos de custo/benefício. Por mim acabava com tudo. Só nas situações excecionais é que usaria plástico. Só no excecional.
VE – Como vê o contacto dos alimentos com o plástico?
MSS – É mau. Pode trazer prejuízos para a saúde. E pode ser substituído pelo vidro, embora sendo mais caro. E pode-se reutilizar o vidro. Em vez de deitar fora os plásticos, nós temos de usar mais vidro e outros produtos que são reutilizáveis. Porque sabemos que é melhor. A quantidade do risco na utilização dos plásticos, acho que a gente não a sabe. O plástico, o microplástico, é pior, mas não sei até que ponto é suficientemente grave e as alterações que provoca para justificar gastar mais dinheiro se por acaso o vidro for mais caro.
VE – Que conselho dá aos agricultores a este propósito?
MSS – Bom senso. É terem bom senso. E saberem o que os outros estão a fazer. Procurarem conhecimento.
VE – Recomenda maior diálogo entre a Agricultura e a Ciência e a Medicina?
MSS – Bem, isso é indiscutível. Completamente. E isso ajuda a procurar informação. Mas há uma grande diferença entre a Ciência e os resultados práticos. Agora, eu aconselho a esse diálogo.
Parlamento Europeu aprova proibição de produtos de plástico
O Parlamento Europeu aprovou na última semana a proibição da venda de produtos de plástico de utilização única na União Europeia (UE) a partir de 2021. A proposta foi aprovada por 571 votos a favor, 53 contra e 34 abstenções e determina a proibição da venda de pratos, talheres, cotonetes, palhinhas, agitadores para bebidas e varas para balões e também de produtos de plásticos oxodegradáveis e recipientes para alimentos e bebidas de poliestireno expandido.
“Os Estados-Membros devem tomar as medidas necessárias para obter uma redução ambiciosa e sustentada de pelo menos 25% até 2025”, refere o documento aprovado em Bruxelas.
Os 28 Estados-membros terão ainda de assegurar a recolha seletiva e a subsequente reciclagem de pelo menos 90% das garrafas de plástico descartáveis até 2025.
Os objetivos de redução serão também aplicáveis aos produtos do tabaco, como os filtros que contêm plástico, com os eurodeputados a pretenderem que estes sejam reduzidos em 50% até 2025 e em 80% até 2030.
As artes de pesca que contêm plástico são também alvo das novas medidas, com os Estados-membros a terem de assegurar que, no mínimo, 50% deste material é recolhido anualmente.
Aprovado depósito de embalagens de plástico, vidro e alumínio em Portugal
Em Portugal, o Parlamento aprovou também na última semana, por iniciativa do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) o texto final relativo ao projeto de lei para criar um sistema de incentivo e depósito de embalagens de bebidas de plástico, vidro e alumínio. Na prática, é a implementação de uma tara recuperável.
A proposta foi aprovada com o voto contra do PCP, a abstenção do CDS-PP e do PEV e os votos a favor de PS, PSD, BE e PAN.
A primeira fase do projeto piloto para a devolução de garrafas de plástico com vista ao encaminhamento para reciclagem arranca até 31 de dezembro de 2019. Na segunda fase, a partir de 01 de janeiro de 2022, passa a ser obrigatória a existência de sistema de depósito de embalagens de bebidas de plástico, vidro, metais ferrosos e alumínio.
As grandes superfícies comerciais ficam obrigadas a disponibilizar equipamentos que permitam a devolução das embalagens de bebidas em causa.
O Estado assegura o financiamento associado ao sistema através da Agência Portuguesa do Ambiente e outras entidades vinculadas a acordos voluntários. A articulação da sua monitorização e acompanhamento será feita com as entidades gestoras do sistema integrado do fluxo específico de embalagens e resíduos de embalagens.
A associação ambientalista ZERO refere, em comunicado, que “Portugal dá um passo fundamental para garantir o seu cumprimento e promover a economia circular”, explicando que os sistemas de depósito de embalagens descartáveis é uma “ferramenta fundamental” para a meta definida para 2015 em diretiva europeia de recolha e reciclagem de 90% das embalagens de plástico descartáveis.
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