Turismo residencial precisa de se reinventar
O turismo residencial tem revelado resiliência, face aos vários desafios que se lhe têm colocado, com especial destaque para a atual situação de pandemia. Mas o setor tem agora de se adaptar a uma realidade completamente diferente, com novos serviços e ofertas, com estratégias bem definidas, defende Gilberto Jordan, CEO do Grupo André Jordan. A revisão da legislação fiscal, especialmente em sedes de IMI e IMT, deve constituir uma prioridade para o poder político.
Será que o turismo residencial poderá não ter recuperação no pós-Covid?
Tenho a convicção de que vai recuperar. O impacto de crises económicas e sanitárias no passado recente mostram a resiliência da oferta e a enorme apetência do lado da procura.
Com um peso de 11,3% no PIB português (o turismo em geral), o impacto da queda no setor no crescimento português será significativo. Apesar de a pandemia ter alterado alguns pressupostos do setor no sentido mais lato, acredito numa recuperação, mas que irá exigir uma certa reinvenção e a junção de esforços entre todos os intervenientes e autoridades dos diversos países. É preciso que todos sigam as novas regras sanitárias, já que é notório que o setor é dos mais “clean”. Portugal tem de se posicionar como uma referência no combate à pandemia.
Para além disto, é importante a manutenção e revitalização de um conjunto de medidas e benefícios como o regime Golden Visa, o regime para residentes não habituais, e revisão de fiscalidade – IMT e IMI –, que podem reanimar o setor.
O turismo residencial e a hotelaria tiveram um enorme impacto positivo na recuperação da economia do país, do património edificado, no comércio de rua e na fantástica restauração de que passámos a dispor.
O alojamento local poderá concorrer com a hotelaria, reduzindo drasticamente os preços, dado que a procura sofreu uma grande redução e a operação pode ser feita com custos mais reduzidos?
Na minha opinião, o ponto central não é a forma como o alojamento local e a hotelaria vão concorrer, mas sim como cada um se vai reorganizar e afirmar perante uma nova realidade.
Estamos num período crítico de análise e reflexão sobre os atuais modelos de negócio, e é preciso reajustá-los à nova realidade, com novas estratégias, novos serviços e ofertas.
O mercado hoje está bastante mais profissional, mais exigente e, acima de tudo, mais digital. Há uma grande necessidade de entender as oportunidades e de repensar os espaços tendo em conta as novas necessidades e a crescente consciencialização para as questões ambientais.
A perda de valor da oferta não pode nem deve ser uma opção.
Acredita que existem inúmeros projetos imobiliário-turísticos que podem ser abandonados em face da atual crise?
Em duas décadas do século XXI, a pandemia da Covid-19 é a quarta crise que nos impacta, alterando os pressupostos operativos das empresas, das pessoas, das sociedades e dos regimes que nos governam.
É, pois, num contexto de grande imprevisibilidade e densa neblina, onde praticamente tudo o que se antecipava foi posto em causa, que os projetos terão de adaptar-se para lidar com as crescentes adversidades. Se nada for feito, muitas empresas e projetos vão ficar pelo caminho.
Foi sempre com base nessa premissa que o André Jordan Group construiu o seu percurso, um caminho de mais de 50 anos de atividade em Portugal, pautado por várias crises conjunturais que enfrentámos e que soubemos sempre ultrapassar.
Aprender a viver com o risco, aceitar essa vulnerabilidade, é uma forma de relembrarmos que somos capazes de nos reerguer, diferentes, mas por vezes mais fortes e acima de tudo capazes de desenvolver uma tolerância coletiva ao risco, o primeiro passo para se tornar mais resiliente.
Portugal como destino turístico europeu pode deixar de ser competitivo se a pandemia continuar presente?
Infelizmente, até termos uma vacina eficaz, a pandemia vai continuar presente à escala mundial. Temos de aprender a viver com esta nova realidade e tentar de forma eficaz desenvolver estratégias para minimizar os riscos e devolver a confiança.
Estou certo de que Portugal irá conseguir criar estratégias de promoção do País como um destino seguro e atrativo, com o foco em programas ligados à natureza e ao ar livre, que são a nova tendência.
Portugal foi eleito como o melhor destino do mundo por três vezes consecutivas e, mesmo em tempos de incerteza, tem todas as condições para continuar a ser um destino de eleição. Mas é preciso fazer por isso.