Startup da Universidade do Porto eletrifica caixas refrigeradas de camiões;

Startup da Universidade do Porto eletrifica caixas refrigeradas de camiões
Cerca de 98% das unidades de frio elétricas instaladas pela Addvolt estão fora de Portugal.
A Addvolt, uma startup incubada no UPTEC (Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto) em 2014, já instalou cerca de uma centena de unidades elétricas em caixas refrigeradas de camiões. Estas unidades refrigeradoras têm, originalmente, um motor frigorífico alimentado por um gerador a diesel. A solução da Addvolt substitui essa energia por eletricidade fornecida por uma bateria recarregável.
“Temos a nossa solução, através de parceiros locais, já em sete países. A maioria está no centro da Europa e serve de frotas de longo curso, de distribuição urbana e até de última milha. A nossa solução entrou em fase de comercialização em 2018 e, desde então, já pudemos reconverter várias tipologias de frotas, algumas das quais com mais de 20 veículos. Já começa a ser um número razoável. Já ultrapassámos a centena de reconversões”, disse à “Vida Económica” Bruno Azevedo, CEO e cofundador da Addvolt.
98% das unidades de frio elétricas instaladas pela Addvolt estão fora de Portugal, com o maior mercado a ser, para já, a Alemanha, seguida pela Holanda. “O crescimento tem sido grande, na ordem dos dois dígitos por ano, incluindo durante o período de Covid-19, dado que as cargas refrigeradas continuaram a ser transportadas”.
 
Projeto global 
 
Bruno Azevedo indica que a Addvolt “nasceu para resolver um problema no mercado de transporte de mercadorias, eliminar as emissões provocadas pelos geradores diesel” através da eletrificação das unidades de refrigeração dos veículos de mercadorias, eliminando diesel e emissões de CO2. “Existem cerca de 4,5 milhões de veículos no mundo e a Addvolt foi pioneira a nível mundial para eletrificar as caixas refrigeradas e, assim, reduzir as emissões, eliminar o consumo de diesel nessa função, reduzir o ruído e fomentar uma logística mais suave nos centros das cidades”, indica.
A nossa fonte refere que o projeto nasceu em Portugal, mas que foi pensado para “ser global”, dado que a necessidade existe em todo o mundo. “O nosso foco agora é a Europa, onde há uma grande necessidade de eliminar emissões e de eliminar o uso de diesel e, por isso, é um mercado onde esta necessidade é urgente. A notoriedade em Portugal existe na medida em que empresas do setor transportador nos abriram a possibilidade de construirmos a solução em conjunto, inclusive com alguns parceiros portugueses. Foi com base neste desenvolvimento em Portugal que foi possível desenvolver uma solução que responde ao mercado internacional”, explica.
Isso é, de resto, o que justifica o facto de, como já referido, 98% das instalações da Addvolt terem ocorrido fora do nosso país. “Há uma maior urgência no centro e norte da Europa relacionada com a questão das emissões do diesel e do ruído. No entanto, também temos alguns clientes em Portugal a usarem a nossa solução para resolverem este problema, estão já adiantados ao mercado. Esta questão é cada vez mais premente”, considera Bruno Azevedo.
 
Retorno em “dois a três anos”
 
“O retorno do investimento numa unidade de frio completamente elétrica é obtido pelos transportadores no prazo de dois a três anos”, de acordo com o engenheiro eletrotécnico de formação. ““O retorno do investimento é o indicador que os nossos clientes mais procuram. Olham para o TCO [sigla em inglês para custo total de propriedade] e nós reduzimo-lo porque estamos a eliminar o consumo de diesel e baixar as necessidades de manutenção em cerca de 50%. Além disso, reduzimos as emissões de CO2 e ruído de operação, permitindo que os nossos clientes possam entrar nos centros das cidades durante períodos noturnos. Portanto, corte de diesel, redução de emissões, custos de manutenção a 50% e redução de ruído são as quatro dimensões das nossas vantagens”, explica o entrevistado.
 
Mais oferta eletrificada
 
Além desta solução, a startup nacional tem desenvolvido outros produtos ligados à eletrificação. “A Addvolt não está focada apenas no mercado refrigerado, mas em todo o ecossistema, que será cada vez mais livre de combustíveis fósseis. Estrategicamente, entramos noutros mercados de baterias, como o doméstico e residencial ou de cisternas, e, com isso, surgiu outra necessidade, que é o facto de as nossas soluções, ao fim de 10 ou 12 anos, quando o nosso cliente vende o veículo, poderem ter uma segunda vida. A mobilidade elétrica é essa segunda vida, para completar o ciclo do produto, entrando numa economia circular. Depois de usada num camião refrigerado, a unidade pode servir o mercado da mobilidade elétrica como um power-bank para veículos elétricos”. 
O interesse nesta solução de carregadores móveis de elétricos está, além de uma segunda vida para a tecnologia, a criar um mercado de primeira vida para a mesma, segundo Bruno Azevedo. “Temos no mercado baterias em segunda vida, mas também soluções completamente novas para o mercado da mobilidade elétrica, mas também unidades novas para o mercado da mobilidade elétrica e até estacionário, para o setor doméstico e residencial, equipados com energia fotovoltaica e renovável”¸ indica o executivo. “Estamos a diversificar, sempre numa perspetiva de criar valor para os nossos clientes”.
Aquiles Pinto aquilespinto@vidaeconomica.pt, 03/09/2020
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