Big techs são “ameaça muito grande” à banca convencional;

Miguel Maya, CEO do Millennium bcp, afirma
Big techs são “ameaça muito grande” à banca convencional
Não existe um regulador que possa colocar travão a determinadas atividades ou a manter uma concorrência saudá-vel, lembra Miguel Maya.
“Têm acesso às bases de dados e não têm regras” e por isso “são uma ameaça muito grande” à banca convencional. Foi desta forma que Miguel Maya, o CEO do Millennium bcp, se referiu às big techs.

Durante o mais recente evento da ACEGE – Associação dos Empresários Cristãos, onde o CEO do BCP falou de liderança, o tema das big techs e das fintechs fez parte dos assuntos abordados. Frisou que as fintechs “obrigam a correr mais rápido, obrigam a melhor disponibilizar serviços aos clientes e a “incorporar para dentro (as necessidades dos clientes) com transformação cultural”. Em contraste, as big techs são uma ameaça à banca que existe porque têm acesso a base de dados, conhecem os clientes, têm capacidade de investimento e, sobretudo, não têm regras, ou seja não existe um regulador que possa colocar travão a determinadas atividades ou a manter uma concorrência saudável.

Regras iguais para todos

Questionado sobre a eventualidade de a rede passar a ser um fardo, Miguel Maya sublinhou que o grupo tem a capilaridade suficiente, mas terá de “reinventar”. Afirmou acreditar que “a rede é um valor positivo e que é possível transformá-la em algo competitivo”. À margem do evento, disse aos jornalistas, a propósito da lei dos grandes devedores à banca, que esta cria uma distinção entre bancos nacionais e os do resto da Europa. Defendeu regras iguais para todos.
Sobre o tema da liderança, Miguel Maya salientou quatro vetores marcantes: deve funcionar com forte orientação para os resultados, depois tudo tem de fazer sentido económico; os problemas devem ser resolvidos eficazmente; os líderes são um apoio, suportam os outros e têm a genuína preocupação com as pessoas. Por seu lado, as pessoas devem interiorizar o benefício para a organização e estes, recorda, “são agentes de mudança (que) atuam de forma colaborativa com permanente curiosidade”.

Millennium bcp tem 4,8 milhões de clientes ativos

O Millennium bcp tem cerca de 16 mil colaboradores, dos quais 7200 estão em Portugal e onde trabalha com 567 sucursais. O grupo tem 4,8 milhões de clientes ativos e 72,8 mil milhões de recursos de clientes, e deste montante tem emprestado 51,2 mil milhões de euros. Exteriormente, o relevo vai para o private banking na Suíça e o retalho na Polónia onde decidiram comprar um banco com 500 sucursais. Estão ainda presentes em Moçambique, Angola, Macau e proximamente abrirão em Xangai. Os principais acionistas são portugueses, com 30% do capital, depois a Fosun, com 27%, e a Sonangol com 19%. O resultado líquido em 2017 foi de mil milhões de euros, tendo chegado aos 800 milhões de euros no 3º trimestre de 2018, e espera acabar o ano passado “em linha com o ano anterior”. A nível do “cost to income”, melhorou dos 86% para ficar “de forma sólida abaixo dos 50%”, o que compara com os 70% de referência da zona euro, diz o CEO. Adiantou que, a nível de empréstimos versus depósitos, veio de uma situação de 2009, em que o ratio estava nos 167%, para ficar abaixo dos 90% em 2018.  A nível de NPE, ou seja, crédito vencido ou crédito reestruturado, veio dos 13 mil milhões de euros em 2013 para os 5,5 mil milhões de euros em 2018, sendo que daquele montante 40% pagam regularmente, refere o gestor. A nível de ROE, o banco está nos 12%. Recorde-se que o banco solicitou ajuda ao Estado da ordem dos três mil milhões de euros com custo de 10% e pagou mais de mil milhões de euros aos contribuintes com aquela operação.
VN
Susana Almeida, 24/01/2019
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