Dourogás vai investir 12 milhões de euros no setor dos biogases;

Nuno Moreira, CEO do grupo Dourogás, afirma
Dourogás vai investir 12 milhões de euros no setor dos biogases
O gás natural, nomeadamente os biogases e o hidrogénio, têm um papel central a desempenhar na mobilidade rumo à descarbonização das sociedades, indica Nuno Moreira. 
A Dourogás está hoje a preparar o futuro, apostando fortemente na vertente renovável e em soluções como biogases e hidrogénio. Nuno Moreira, CEO do grupo Dourogás, revela que o grupo está a preparar “um investimento de 12 milhões de euros”, até 2022, salienta que os biogases “vão ser fundamentais na política de descarbonização” e que o Grupo Dourogás “quer estar na liderança” nesta área. Já no que diz respeito ao GNV, o objetivo do grupo passa pela “consolidação e reforço da posição de liderança neste mercado”.
Vida Económica - A Dourogás celebrou, em 2019, 25 anos de existência. Que balanço faz destas duas décadas e meia de atividade?
Nuno Moreira - O balanço não podia ser mais positivo. Foram 25 anos de muito trabalho, de antecipação e de procura de soluções inovadoras. “Há 25 anos a inovar” é o nosso slogan porque essa é a nossa forma de estar no mercado. Estamos sempre numa ótica de procura contínua de oportunidades de investimento, com foco em dois temas centrais: o Desenvolvimento Regional, o desígnio com que nascemos há um quarto de século, para melhor servir uma região que tinha ficado excluída da rede de distribuição de gás natural; e a Transição Energética, onde acreditamos que o gás natural, e nomeadamente os biogases e o hidrogénio, têm um papel central a desempenhar na mobilidade rumo à descarbonização das sociedades. Nos próximos 25 anos, esses compromissos vão continuar a ser centrais na nossa agenda.
 
VE - Como evoluiu a empresa ao longo deste período? Quais diria terem sido os momentos mais marcantes na vida da empresa?
NM - É interessante constatar como, em 2019, ano em que cumprimos o nosso 25º aniversário, atingimos o culminar deste primeiro ciclo de vida do grupo: este ano, vimos serem-nos atribuídas oito novas licenças de distribuição de gás, correspondentes a nove concelhos, as últimas disponíveis para o Interior Norte. Esta é a região que está na génese da criação do Grupo Dourogás, responsável pela chegada do Gás Natural a estes municípios, o que lhes permitiu atrair empresas e investimento, criar emprego e, por essa via, impactar na qualidade de vida das populações, na coesão territorial e no desenvolvimento regional. 
A nossa missão começou, assim, com a construção de redes distribuição e comercialização de Gás Natural, uma das áreas centrais da nossa atuação. Contudo, cedo percebemos que se o Gás Natural é bom para as famílias, para a indústria e para os edifícios, então também o é para a mobilidade. Queremos estar na dianteira da Transição Energética. Esta visão tem-nos guiado especialmente nesta última década, em que temos apostado fortemente em I&D, o que nos permite sermos líderes de mercado em alguns projetos nacionais, incluindo o Gás Natural Veicular (GNV). 
 
Plano estratégico prevê “forte investimento em I&D” no setor dos gases renováveis
 
VE - Após a venda em 2018 da Goldenergy ao grupo Axpo, a Dourogás anunciou que se iria “concentrar no negócio do gás”. Quais os principais vetores deste reposicionamento estratégico?
NM - Nos últimos dois anos, assumimos como desígnio sermos a referência na produção de biogases e hidrogénio e estamos a posicionar-nos nesse sentido, pois acreditamos que são áreas de grande futuro. Temos pela frente desafios enormes, especialmente relacionados com a Transição Energética, com a mobilidade e com a forma como, daqui em diante, vamos produzir, distribuir e consumir energia. Enquanto companhia do setor energético temos, hoje, mais do que nunca, de nos posicionar para o futuro. É o que estamos a fazer.
 
VE - Na prática, quais os projetos previstos e o montante estimado do plano de investimentos em curso?
NM - Neste momento, estamos a investir em várias frentes. O plano estratégico do Grupo Dourogás para os próximos anos implica um forte investimento em I&D no setor dos gases renováveis, seja no desenvolvimento de novas soluções de mobilidade, como no lançamento de novos projetos semelhantes àquele que existe, neste momento, em Mirandela, onde temos uma central de produção de biogás a partir da degradação anaeróbica (ou seja, sem oxigénio) de resíduos orgânicos. Na prática, os veículos de recolha de lixo deste município despejam diariamente os resíduos na nossa central e são atestados com combustível produzido a partir dos seus próprios resíduos, num exemplo de economia circular total. Temos vários projetos semelhantes em estudo e, por isso, iremos investir nesta área cerca de 12 milhões de euros até 2022. Os biogases vão ser fundamentais na política de descarbonização e o Grupo Dourogás quer estar na liderança. No que diz respeito ao GNV, queremos concentrar-nos na consolidação e reforço da posição de liderança neste mercado.
 
GNV ocupa hoje uma posição de destaque no modelo de Transição Energética
 
VE - O grupo tem hoje uma forte presença no mercado do GNV. O que motivou a aposta neste segmento?
NM - Fomos pioneiros no setor da mobilidade a gás porque acreditamos que o GNV ocupa hoje, em definitivo, uma posição de destaque no modelo de Transição Energética. A crescente procura por este tipo de solução energética para a mobilidade dá-nos razão. Temos, atualmente, uma rede de sete postos de abastecimento de GNV (quer GNC – Gás Natural Comprimido, quer GNL – Gás Natural Liquefeito), que abastece mais de 600 viaturas por dia, sendo que, destas, mais de 400 são viaturas pesadas, o que dá nota da nossa matriz de posicionamento no segmento no transporte profissional, onde detemos uma participação acima de 2/3 da quota de mercado.
 
VE - Quais os principais benefícios da utilização do gás natural para a mobilidade, em comparação com os combustíveis tradicionais e as mais recentes soluções de mobilidade elétrica?
NM - O GNV permite, de forma claríssima, contribuir para a redução das emissões de gases com efeito de estufa (nomeadamente de C02) e para a melhoria imediata da qualidade do ar, por via de uma quase eliminação da emissão local de partículas poluentes. Do ponto de vista económico, apresenta vantagens igualmente inequívocas, assegurando poupanças na ordem dos 50% em comparação aos combustíveis tradicionais. Com o GNV é possível viajar num automóvel ligeiro de Lisboa ao Porto com menos de 15 euros de combustível, sendo que, no caso das viaturas pesadas de mercadorias, que têm uma utilização bastante intensiva e perfis de consumo energético elevado, as poupanças podem ascender a 2 mil euros mensais por camião. 
O caminho rumo à descarbonização só será possível de percorrer recorrendo a um mix de energias, incluindo eletricidade, gás natural, gases renováveis, e outros. Não existem soluções milagrosas e, na verdade, o Gás Natural é a única energia que conseguirá fazer frente às intermitências que as energias renováveis sempre vão ter. O Biometano e o Hidrogénio produzido a partir de resíduos e biomassa fazem parte do futuro mais sustentável que todos queremos.
 
 “GNV é a solução mais económica e eficiente na mobilidade”
 
VE - E como tem visto a evolução do mercado do GNV, quer em Portugal quer a nível internacional?
NM - O mercado do GNV tem crescido de forma absolutamente surpreendente a nível nacional e internacional. Não temos dúvidas que o GNV é a solução mais económica e eficiente na mobilidade e, por isso, continuamos a investir e a construir parcerias. No atual quadro restritivo no que diz respeito à redução das emissões poluentes, cada vez mais apertado e que impõe metas ambiciosas aos próprios agentes económicos do setor transportador, a Dourogás GNV tem, nos últimos anos, registado crescimentos anuais, de forma sustentada, sempre nos dois dígitos, o que prova a procura cada vez maior do mercado por soluções que oferecem ganhos duplos, económicos e ambientais.
 
VE - Nesse sentido, quais têm sido os principais obstáculos que estão a condicional uma maior adesão ao GNV no nosso país? A abrangência da rede de abastecimento ainda é uma limitação real?
NM - O Grupo Dourogás procura sempre assumir os obstáculos como oportunidades e tem sido essa capacidade que nos tem posicionado como líderes num conjunto de negócios inovadores. Uma das vantagens desta solução de mobilidade é a sua maturidade tecnológica, com o número crescente de modelos de viaturas movidas a GNV (quer GNC ou GNL) a adequar-se à expansão da rede de distribuição de Gás Natural para Veículos. 
A rede do Grupo Dourogás (já presente em pontos como Porto, Mirandela, Vila Real, Carregado ou Elvas) está a expandir-se e estamos preparados para avançar para uma política de maior capilaridade geográfica, de acordo com a evolução do perfil da procura e do mercado. Acreditamos que quantos mais postos e mais operadores melhor, num setor que está a dar passos importantes na era da transição energética.

FERNANDA SILVA TEIXEIRA, fernandateixeira@vidaeconomica.pt, 03/01/2020
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