Portugal é um bom exemplo na disponibilização de informação sobre as empresas;

José Monteiro, “country manager” da Coface, afirma
Portugal é um bom exemplo na disponibilização de informação sobre as empresas
“As soluções da Coface permitem aos nossos segurados endossar a favor dos bancos o direito à indemnização dos créditos sobre os seus clientes, possibilitando aos bancos o financiamento de operações de adiantamento de receitas” – explica José Monteiro.
O nível de informação económica e financeira disponibilizado pelas empresas portuguesas está acima da média europeia – considera José Monteiro. Em entrevista à “Vida Económica” o “country manager” da Coface refere que na maioria dos países europeus não existe o mesmo acesso aos dados económicos e financeiros das empresas, nem o depósito obrigatório das contas. Em relação à sinistralidade no seguro de crédito, José Monteiro admite que o nível de incumprimento em Portugal não é baixo, obrigando a uma vigilância permanente das empresas e das comunicações de atrasos reportadas pelos segurados.

Vida Económica -  Como compara a informação obrigatória  disponível sobre empresas entre Portugal e os países da UE?
José Monteiro -
A informação de que a Coface dispõe, para a análise e gestão de risco de empresas em Portugal, é muito completa, uma vez que temos acesso oficial à informação financeira das empresas, algo que não ocorre na maioria dos países europeus, onde a Coface atua na cobertura do risco de crédito. Portugal constitui de facto um bom exemplo de disponibilização de informação económica e financeira das empresas, que, conjugada com outras informações com carácter oficial e também qualitativo, permitem um melhor conhecimento da evolução das empresas. Por forma a reforçar a qualidade da informação disponibilizada pelo mercado, os nossos analistas de informação efetuam com regularidade visitas junto das empresas, com vista a conhecerem de perto a sua realidade e poderem assim transmitir aos nossos segurados um elevado grau de confiança nas nossa decisões.
Nos mercados externos e no sentido de garantirmos a melhor qualidade ao conteúdo da informação sobre as empresas, contamos com o acompanhamento efetuado pelas diversas sucursais ou filiais do grupo Coface, que possibilitam a cobertura do risco de crédito em 200 países e  que, utilizando um modelo comum de análise e gestão de informação e risco, garantem a qualidade de serviço global aos  nossos segurados. Podemos afirmar que, pelo facto de sermos uma mesma entidade nos cerca de 100 países onde operamos, asseguramos uma qualidade de serviço comum que não tem paralelo no mercado do seguro de crédito.

VE - Qual tem sido a evolução da sinistralidade no cumprimento de obrigações das empresas portuguesas?
JM -
É extremamente difícil indicar um número global da sinistralidade para o sector, uma vez que a informação disponível não o permite, não sendo por isso possível tratar a informação com o rigor que é exigido. O indicador mais comum e normalmente utilizado é a análise conjunta da evolução dos processos de insolvência em Portugal, que, conjugada com o comportamento de pagamento das empresas, permite avaliar o comportamento expectável no mercado.
Assim e com base na informação oficial disponível, constante das estatísticas trimestrais da Direcção-Geral de Política da Justiça, verifica-se, em 2016 e face a 2015,  uma redução no número de processo entrados, encerrados e pendentes, ainda que os mesmos se encontrem em nível mais elevado que o verificado em 2011, durante o período da crise financeira. Conjugando esta informação com o facto das empresas portuguesas apresentarem tradicionalmente prazos de pagamento mais dilatados que a média europeia e mundial, em cerca de 10 a 20 dias, podemos admitir que o nível de incumprimento em Portugal não é baixo, obrigando a uma vigilância permanente das empresas e das comunicações de atrasos reportadas pelos nossos segurados. Este acompanhamento, na Coface, passa naturalmente pela disponibilização de um serviço de recuperação dos créditos cobertos e não cobertos, neste caso num apoio directo aos nossos segurados.

VE - Qual tem sido a evolução na atividade da Coface em Portugal?
JM - A Coface em Portugal apresentou em 2016 face a 2015, um crescimento da sua atividade superior a 12%, sendo a seguradora com o maior crescimento, segundo os dados disponibilizados pela ASF-
Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões. Este crescimento traduziu-se no aumento do número de clientes, bem como nas vendas cobertas, quer em mercado externo, quer interno, acompanhando a cobertura do risco de crédito dos nossos clientes, em todas as geografias em que estamos presentes de forma directa e indirecta.
Na Coface, como seguradora de crédito globalizada, com presença em cerca de 100 países, encontramos as melhores soluções para os nossos clientes, através de amplo leque  de opções de cobertura, quer ao nível do risco comercial, quer político, quer ainda de seguro de investimento, complementando se necessário as coberturas do Estado português.
As nossas soluções são ainda facilitadoras do acesso ao financiamento bancário, o que possibilita a complementaridade de fontes de financiamento das empresas.

Potencial de crescimento passa por identificarmos novos clientes

VE - Em que áreas existe maior potencial de crescimento?
JM -
Dada a maturidade do mercado em Portugal, que, apesar do crescimento que apresentámos, registou uma redução de cerca de 0,3%, segundo os dados da ASF, o potencial de crescimento passa, naturalmente, por identificarmos novos clientes e procurar desenhar ofertas diferenciadoras que permitam abrir mercado e demonstrar o efeito muito positivo do seguro de crédito no apoio ao crescimento das empresas e à melhoria da sua situação financeira, combatendo o flagelo dos incobráveis e do seu impacto na sua tesouraria.

VE - De que forma os serviços da Coface complementam os serviços bancários?
JM -
As soluções da Coface permitem aos nossos segurados endossar a favor dos bancos o direito à indemnização dos créditos sobre os seus clientes, possibilitando aos bancos o financiamento de operações de adiantamento de receitas, o que beneficiará a tesouraria da empresa e permitirá, naturalmente, reduzir os custo com o financiamento das operações, dada a diminuição do risco com incobráveis. Acresce ainda o facto de, na Coface, podermos  também proteger o risco de financiamento de operações de investimento, em diversas geografias, cobrindo assim também um risco importante na internacionalização das empresas.

VE -  Quais são os erros mais frequentes das empresas exportadoras na gestão dos riscos de crédito?
JM -
É importante separar as empresas que têm o risco de crédito coberto, através de uma apólice de seguro de crédito que deverá estar bem ajustada às suas necessidades, das empresas que não têm o seguro de crédito como ferramenta de gestão. De facto, as empresas que não têm seguro de crédito e pretendem ter uma gestão adequada do mesmo, ou seja, não estarem sujeitas a serem surpreendidas por situações graves de incumprimento dos seus clientes ou, por vezes, da simples recusa de pagamento com invocação dos motivos mais dispares, terão de suportar custos acrescidos, uma vez que têm de internalizar custos com a obtenção de informação e a criação de uma estrutura responsável pela gestão de risco, suportar o impacto dos incobráveis e, não menos importante, desencadearem processo de cobrança para recuperação da dívida, com dificuldade acrescida quando os devedores se encontram em mercados externos.
No que se refere às empresas que têm apólice de seguro de crédito, a situação mais inconveniente que por vezes ocorre, apesar de, no caso da Coface, alertarmos periodicamente para a situação, prende-se com os casos de usurpação fraudulenta da utilização do nome de uma empresa cliente, originando uma entrega de mercadoria cujo crédito não está coberto, dada a inexistência efectiva da venda. Para além deste aspeto, é importante alertar os segurados para a necessidade de acompanharem de perto os limites de crédito atribuídos pela seguradora, que, no caso da Coface, são acompanhados por uma explicação da decisão, bem como contemplarem uma avaliação direta do cliente através do nosso DRA  “Debtor Risk Assessement”, um indicador sobre a probabilidade de  uma empresa entrar em incumprimento, por forma a evitarem exposições muito acima do definido pela seguradora e evitarem assim uma perda adicional.
Comum às duas, é muito importante a formalização dos termos e condições gerais de venda no contrato, por forma a evitar disputas contratuais e facilitar a comprovação da venda.
JOÃO LUÍS DE SOUSA jlsousa@vidaeconomica, 10/03/2017
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