“Diferenciação supera a falta de dimensão ou escala”;

RICARDO GONÇALVES PEREIRA, CEO DA YUNIT, CRIADORA DO PRÉMIO “HERÓIS PME”, APONTA O EXEMPLO DOS TÊXTEIS PORTUGUESES
“Diferenciação supera a falta de dimensão ou escala”
“A atitude do empresário, o reflexo das suas decisões, muitas vezes corajosas e contra todos os prognósticos, que impactam colaboradores e a comunidade onde se inserem, isso é a verdadeira essência de ser empresário”, afirma Ricardo Gonçalves Pereira, CEO da Yunit.
No âmbito da atribuição do Prémio “Heróis PME - Histórias de empresas que deram o salto”, criado pela Yunit Consulting, consultora nacional para PME, Ricardo Gonçalves Pereira, CEO da Yunit, fala à “Vida Económica”, da dificuldade que a falta de escala traz à internacionalização. E afirma: “Uma empresa portuguesa, para vender em França, tem de fazer um esforço muito maior que uma empresa espanhola porque esta já opera num mercado cinco vezes maior que o nosso”. Ocupar nichos de mercado especializados, onde o que é relevante é a diferenciação e não a dimensão ou a escala, faz toda a diferença. 
Vida Económica - Como vê a capacidade de empreender e de se mostrar ao mundo por parte dos empresários portugueses e quais as maiores dificuldades que enfrentam as PME?

Ricardo Gonçalves Pereira - O mito de que os portugueses são menos capazes que outros povos está totalmente ultrapassado. Temos todos demonstrado isso em diferentes áreas de atividade. Já não é só no futebol. É interessante verificar como um país tão pequeno como o nosso consegue gerar tantas pessoas qualificadas a darem cartas lá fora. Da música à ciência, mas também na gestão. Outra coisa são as empresas e aí o nosso problema tem exclusivamente a ver com escala. Isto é, é muito mais difícil a um empresário português fazer crescer o negócio porque lhe falta o empurrão decisivo da escala nacional. Porque sem escala, a margem e o potencial de investimento necessário para se enfrentarem outros mercados é menor. Ou seja, uma empresa portuguesa para vender em França tem de fazer um esforço muito maior que uma empresa espanhola, porque esta já opera num mercado cinco vezes maior que o nosso. É por isso que as empresas portuguesas e bem – veja-se o exemplo dos têxteis – optaram por ocupar nichos de mercado especializados onde o que é relevante é a diferenciação e não a dimensão ou a escala.

VE - Haverá, por parte dos empreendedores portugueses, vontade e possibilidade de arriscarem mais?

RGP - Existem duas coisas que temos de distinguir porque têm relevâncias distintas. Uma foi a situação que resultou da crise recente que atravessámos e que foi o facto de muitas pessoas terem tido a necessidade de se “fazerem à estrada” – se me é permitida a expressão – e criarem o seu posto de trabalho, através de um negócio onde sabiam que podiam fazer a diferença face ao que já havia no mercado. Essa situação é tão legítima quanto qualquer outra razão para se criar um negócio. E muitas pessoas conseguiram-no fazer, também graças a alguns apoios, como aqueles que são concedidos pelo Instituto do Emprego.

Outra coisa diferente é passar da condição de empreendedor a empresário. Uma empresa é um ecossistema de re- lações que exige mais empenho e maior responsabilização, porque exige um pensamento de mais longo prazo, mais estruturado. Também porque o investimento é maior, o empresário tem de ser mais criterioso a avaliar o risco das decisões que toma e foi isso que quisemos valorizar com o Prémio Heróis PME. A atitude do empresário, o reflexo das suas decisões, muitas vezes corajosas e contra todos os prognósticos, que impactam colaboradores e a comunidade onde se inserem, isso é a verdadeira essência de ser empresário.

A diferenciação pode estar na estratégia

VE - Sendo o mercado internacional o foco da atividade de muitas PME, quais as principais orientações por parte da Yunit para que possam, de facto, competir num mercado global e até que ponto será efetivamente possível fazê-lo?

RGP - Os mercados externos são um destino natural de produtos e até serviços de empresas, que querem ser maiores que o mercado português. Temos muitos e bons exemplos de empresas que souberam internacionalizar-se e de outras que souberam como exportar. Muitas empre- sas já se aperceberam que a forma de vingarem no mercado global é pela diferenciação, atacando mercados especializados como é o caso dos têxteis.

No que toca a diferenciação, algumas empresas portuguesas também já perceberam que pode estar, precisamente, na estratégia. Isto é, ir para mercados onde os grandes players não estão com a força com que estão em mercados maduros.

O mundo está cheio de oportunidades e o que as empresas precisam é de boas estratégias, de um bom assessment (avaliação) do respetivo potencial e do potencial de mercado de destino, de como podem ou devem adaptar os produtos ou serviços aos mercados de exportação e de como devem construir esses mercados por forma a repetirem vendas de forma consistente. Claro que nestes processos é preciso ter, também, em consideração que alguns países – e são mais do que às vezes possamos pensar – continuam a ter muitas barreiras à entrada e a dificultarem muito a vida às empresas que vêm de fora, para protegerem as suas indústrias locais. E esse é um dos fatores mais relevantes de qualquer estratégia de internacionalização ou exportação. Conhecer bem o mercado destino para não corrermos o risco de fazermos grandes investimentos e depois sermos barrados à entrada.

Esperemos que as empresas consigam tirar do Prémio Heróis PME o partido necessário, até para as estratégias de diferenciação, porque, afinal, trata-se de um prémio que distingue o esforço, a perseverança e as boas decisões. No fundo, é um prémio que distingue as boas empresas pelo valor que trazem ao país e não apenas em ganho económico, mas também na forma como esse valor é refletido nas pessoas e na comunidade em que se insere. 

 

 
Prisca recebe Prémio Yunit Heróis PME

A Prisca (1917), empresa de fumeiros, presunto, enchidos e compotas da região de Trancoso, vê reconhecido o saber-fazer de várias gerações, assim como a estratégia delineada pelos seus gestores, cuja tomada de decisões tornou este percurso de sucesso possível ao ser agraciada com o Prémio Heróis PME.
“Este Prémio é um importante cartão de visita para um conjunto vasto de instituições com quem nos relacionamos diariamente”, afirmou António Plácido Santos, CEO da Casa da Prisca. “A Prisca é reconhecida no mercado como uma empresa com produtos de qualidade, contudo a história de vida e o sucesso, obtido com muito trabalho em família, não seriam tão conhecidos”, comenta. “Esta é uma sincera homenagem ao principal fundador da Prisca”, acrescenta. “Temos um rosto, as pessoas sabem que podem confiar em nós”, sublinha Plácido Santos. “As vendas acontecem pelo produto, principalmente fora de portas, mas a História também ajuda a vender”, conclui.


 


Susana Almeida, 03/11/2017
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