‘Fashion Pact’: “a indústria portuguesa está preparada para a sustentabilidade”;

‘Fashion Pact’: “a indústria portuguesa está preparada para a sustentabilidade”
François-Henri Pinault, CEO da Kering (dona das marcas Gucci e Saint Laurent), com o Presidente francês, Emmanuel Macron, na cimeira do G7 em Biarritz.
 
“A indústria portuguesa de confeção e vestuário já está preparada para responder aos desafios da sustentabilidade” constantes do ‘Fashion Pact’ (Pacto da Moda), assinado em finais de agosto em Biarritz, França, no âmbito da cimeira de líderes do G7. As empresas portuguesas são “muito sofisticadas” e estão, aliás, “muito mais preparadas que as de outros países”, garante o presidente da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção (ANIVEC-APIV), César Araújo. 
O setor do vestuário agrega em Portugal “mais de 4500 empresas”, emprega “mais de 90 mil pessoas” e exportou 3,2 milhões de euros em 2018. Até 30 de junho já vendeu para o exterior 1,6 milhões.

François-Henri Pinault, CEO da Kering (dona das marcas Gucci e Saint Laurent), protagonizou o compromisso assumido pelo mundo da moda ao assinar em Biarritz, lado a lado com o presidente francês, Emmanuel Macron, o ‘Fashion Pact’. O documento vincula 32 multinacionais europeias donas de 150 marcas. Uniram-se para subscrever um pacto com “objetivos tangíveis”, que visam limitar os impactos da sua indústria no clima, na biodiversidade e nos oceanos, através de metas calendarizadas para 2030 e 2050. 
Em declarações à “Vida Económica”, César Araújo saúda a assinatura do ‘Fashion Pact’ e espera que o mesmo se cumpra. “Este é um pacto de intenções importante para que este caminho [para a sustentabilidade] seja feito”. Não deve, pois, “ficar no papel”. 
O presidente da ANIVEC-APIV diz, por exemplo, que “não é possível continuar a gastar água quando sabemos que a água é escassa e que vai ser o petróleo do futuro”. O mesmo se passa quanto aos plásticos, que são, diz, a par dos químicos, “o nosso maior problema”. É, pois, necessário “apostar na reciclagem” de materiais e de produtos, quer por parte da indústria, quer do consumidor.
“A nossa indústria já está preparada, temos empresas muito sofisticadas, estamos em condições de cumprir com todos os cadernos de encargos das grandes marcas, as universidades também estão a trabalhar para que isto seja feito e todos os esforços são bem-vindos”, diz o dirigente associativo. Não obstante, “é preciso que também os consumidores estejam preparados” para este desafio, nomeadamente para “reciclar”, para “reutilizar” e, até, para reaprender a tratar a roupa. Por exemplo, “o consumidor não tem de lavar certas peças de roupa todos os dias”, diz César Araújo. Se for mais criterioso na forma como trata cada peça de vestuário, isso pode gerar “poupanças de água e de químicos”.
É um facto que a sustentabilidade “tem um preço”. Desde logo a reciclagem e os processos que contribuem para a economia circular, cujos custos para as empresas podem agravar-se em “25%”. E isso pode ter reflexos no preço final. As grandes marcas de moda, diz César Araújo, “já têm essa consciência”. Os consumidores com poder de compra para adquirirem peças das suas marcas, idem. E estarão, até, dispostos a pagar por isso. O desafio pesa agora mais sobre as “empresas de ‘fast fashion’, que operam com margens inferiores e têm mais dificuldade em fazerem a transição para a sustentabilidade”, diz o presidente da ANIVEC-APIV. E pesa igualmente mais sobre os consumidores que as alimentam.
Certo é que “não podemos esperar mais; não podemos esperar uma década ou duas” para fazer esta transição. A indústria, as empresas, a montante a jusante, devem adaptar-se e mas, garante César Araújo, “a última palavra é a do consumidor”. Cada cidadão “tem de mudar comportamentos”, para que a sustentabilidade do setor possa ganhar corpo.
 
Eliminação das emissões líquidas de carbono até 2050
 
O ‘Fashion Pact’ fixa metas climáticas muito claras, como a introdução de 100% de energias renováveis até 2030 e a eliminação das emissões líquidas de carbono até 2050, através de programas de compensação verificáveis ​​como o Redd+. 
No que respeita à biodiversidade, as 32 multinacionais envolvidas comprometem-se a renunciar aos ‘stocks’ provenientes da pecuária intensiva, bem como a favorecer as explorações que respeitem o ecossistema natural, protejam as espécies e regenerem os solos. Através deste Pacto, as empresas assumem ainda o compromisso de proteger os oceanos, eliminando o uso de plásticos de uso único até 2030 e estimulando a introdução de novos materiais com vista a reduzir a poluição relacionada com microfibras de plástico.
Além da Kering, cujo CEO deu a cara em Biarritz pelo ‘Fashion Pact’, os primeiros signatários do pacto envolvem a Burberry, Chanel, Ferragamo, Armani, Hermès, Moncler, Prada,  Karl Lagerfeld, Ralph Lauren, Stella McCartney e Zegna. Estão também envolvidas multinacionais do retalho como a H&M, Gap e Inditex (dona da Zara e Maximo Dutti), as marcas desportivas Adidas, Nike e Puma, os chineses da Fung Group (Juicy Couture, Kenneth Cole, entre outras) e Ruyi (Sandro, Maje, Claudie Pierlot), os grupos Bestseller, PVH (que detém a Calvin Klein, Tommy Hilfiger, Speed, entre outras) ou a Capri (dona da Versace, Jimmy Choo, Michael Kors), a Fashion 3 do grupo Mulliez (Jules Brice, Pimkie), a Carrefour, as Galeries Lafayette, a La Redoute, Nordstrom, Selfridges, MatchesFashion e a Tapestry.

As três grandes metas do ‘Fashion Pact’
 
• Por fim ao aquecimento global, criando e implementando um plano de ação para alcançar o objetivo de zero emissão de gases do efeito estufa até 2050, a fim de manter o aquecimento global abaixo de um caminho de 1,5°C até 2100.
 
• Restaurar a biodiversidade, alcançando objetivos através do cumprimento de metas baseadas na Ciência para restaurar ecossistemas naturais e proteger espécies.
 
• Proteger os oceanos, reduzindo o impacto negativo da indústria da moda nos oceanos, através de iniciativas práticas, como a remoção gradual do uso de plásticos descartáveis.

 


TERESA SILVEIRA teresasilveira@vidaeconomica.pt, 05/09/2019
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