Futuro do trabalho depende da requalificação;

António Saraiva destaca prioridades para o Ensino e a formação profissional
Futuro do trabalho depende da requalificação
Para António Saraiva, a digitalização está a mudar todos os setores de atividade em todas as regiões do mundo.
“A economia digital é cada vez mais um setor transversal que tem de interagir com a atividade económica no seu todo” – afirma António Saraiva. O presidente da CIP considera que todas as empresas, independentemente da sua atividade e dimensão, terão de incorporar os ganhos de eficiência e de eficácia decorrentes das novas ferramentas digitais. “Se não o fizerem, serão facilmente ultrapassadas pela concorrência” - garante.  Para António Saraiva, a competitividade da economia portuguesa depende, assim, da capacidade que tiver para se adaptar a esta nova realidade.
 
Ao fim de três anos, enquanto parceira institucional da Leadership Summit Portugal, o que significa para a CIP continuar a renovar o seu apoio a um evento deste género no nosso país?
António Saraiva (AS): A Leadership Summit Portugal tem imprimido uma marca muito impressiva na discussão sobre os processos de liderança, sobretudo empresariais. As reflexões produzidas e a troca de experiências em diferentes setores de atividade têm permitido vincar uma ideia muito clara sobre a importância das lideranças nas organizações empresariais, afirmando de forma categórica a dependência do sucesso face a uma boa liderança.
Num país como Portugal, caracterizado por uma economia pequena, sem muitas empresas de grande dimensão, só o ganho de escala aliada à inovação permitem gizar uma estratégia de afirmação internacional vencedora. E este percurso começa e acaba inevitavelmente numa boa liderança.
É por isso que um evento centrado sobre a temática das lideranças empresarias, ainda para mais com o brilho e o sucesso que a Leadership Summit Portugal já alcançou, assume uma importância estratégica para a CIP. E este é, em si, o espelho de uma boa liderança dos seus promotores, no qual nos revemos, e por isso continuaremos a apoiar.
 
A CIP volta este ano ao palco da cimeira de liderança com um painel onde o futuro do trabalho está no centro da discussão: “O Futuro do Trabalho – a resposta está na Requalificação”. O que podemos esperar deste momento?
AS: Ao longo do presente ano, a CIP desenvolveu com a Nova SBE o estudo “Automação e o futuro do emprego em Portugal – O imperativo da requalificação”. Cientes da dimensão que este impacto está a ter e continuará a ter na próxima década, no futuro do emprego como hoje o conhecemos, sabemos bem o quão imperativo será, atempadamente, tomarmos medidas para potenciar as oportunidades e atenuarmos os riscos associados a este enorme processo de mudança que estamos a iniciar. O caminho não passa por parar esta revolução digital. O caminho passa por prepararmo-nos da melhor forma.
As principais características que distinguem esta quarta revolução industrial de anteriores saltos tecnológico, pelos quais a Humanidade passou nos últimos dois séculos são a velocidade alucinante com que se está a impor e a sua abrangência, não deixando qualquer setor de atividade ou qualquer região do Globo de fora. A economia digital é, assim, cada vez mais, um setor transversal que tem de interagir com a atividade económica no seu todo. Todas as empresas, independentemente da sua atividade e dimensão, terão de incorporar os ganhos de eficiência e de eficácia decorrentes das novas ferramentas digitais. Se não o fizerem, serão facilmente ultrapassadas pela concorrência. A competitividade da economia portuguesa depende, assim, da capacidade que tiver para se adaptar a esta nova realidade.
No estudo elaborado, concluímos que o fator crítico passa por aquilo que apelidámos de “imperativo da requalificação”. Pode parecer paradoxal, mas num tempo de forte afirmação tecnológica quem fará a verdadeira diferença na vida das empresas serão as pessoas. O maior desafio é, assim, ajudar as pessoas, para que a força de trabalho se prepare para as novas necessidades da economia e da sociedade. O sistema de ensino e de formação profissional terá de se adaptar aos novos tempos. Precisamos de formações adequadas ao mundo digital, que imprimam flexibilidade e resultados muito palpáveis na vida das empresas. Esta mudança tem de ir desde o ensino básico (numa visão de médio/longo prazo) até à formação profissional (numa visão de mais curto prazo, mas igualmente imprescindível). É imperativo requalificar competências. E esta é uma responsabilidade tanto do Estado como das empresas.
 
Participam neste momento mais dois convidados vossos, referimo-nos a Daniel Traça e Leonor Sottomayor. O que espera das suas intervenções?
AS: Muita desta adaptação está já em curso nas empresas que estão mais cientes e logo mais bem preparadas, perante esta revolução que vivemos. Por isso, ouvir aquilo que as nossas maiores empresas nacionais já estão a fazer será, sobretudo, muito pedagógico para a escolha das estratégias a seguir.
Por outro lado, cabe às academias o encontrar de soluções formativas mais próximas da realidade nacional, como garantia de sucesso para uma reconversão de saberes e de competências, capazes de ajudar as pessoas a encontrar novos caminhos laborais.
Foi com este propósito que escolhemos os oradores referidos e que, estou certo, nos enriquecerão com as suas experiências de liderança neste processo.
 
Em que medida é que a CIP evoluiu, nos últimos anos, ao encontro desta necessidade de requalificação?
AS: A CIP, utilizando a sua própria sigla, tem como função anteCIPar e partiCIPar nos processos evolutivos da sociedade e da economia portuguesa. Conscientes do impacto da automação e da economia digital no futuro do emprego em Portugal e no mundo, mas muito particularmente no nosso país, ainda com uma grande presença de indústrias de manufatura, percebemos que teríamos que ajudar a despertar a sociedade para a revolução que aí vinha. Por isso, realizámos um estudo exaustivo em conjunto com a Nova SBE, cujos resultados são impactantes.
Perante a dimensão do impacto previsto, conduzimos a segunda parte desse mesmo estudo para o imperativo da requalificação de habilitações profissionais da grande maioria da força de trabalho em Portugal. Nesta altura, estamos já na fase de construção de soluções, envolvendo o Governo, as empresas e as instituições de ensino, para traçarmos um plano que ajude o país a minorar o impacto negativo dessa transformação.
 
De que forma é que o crescente número de startups afeta a economia portuguesa e as empresas já estabelecidas? Como é possível assegurar o crescimento sustentável de todos (empresas estabelecidas e startups) e da economia portuguesa?
AS: Só tenho uma resposta para essas inquietações. Quantas mais melhor! Quantos mais forem capazes de se imbuírem de um espírito empreendedor e transformar uma ideia numa empresa, mais a economia nacional ganha em agentes económicos, em inovação, em competitividade e em produção. E isso é ótimo para aguçar a competitividade, mesmo daqueles que já estão há mais tempo no mercado. A seleção natural das ideias e das empresas fará, depois, o seu caminho.
 
Em 2017, disse que algo fundamental é a aposta nas pessoas por parte das empresas, sente uma maior preocupação, por parte das empresas, em tentar fomentar as suas pessoas?
AS: Mesmo que assim fosse, perante os resultados do estudo que apresentamos, não há como ignorar a importância das pessoas para os processos de criação de valor na economia e nas empresas. A requalificação massiva que será necessário promover em Portugal, sobretudo em competências digitais, com um grande envolvimento das empresas, constitui a melhor resposta a esta pergunta.
 
Aproximando-se a sua saída da CIP, e após tantos anos de experiência e contacto com o mundo do trabalho, o que pensa fazer no futuro?
AS: Não faço a mínima ideia. Mas de uma coisa estou certo. Da vida e da minha veia empreendedora nunca me reformarei.
 
Olhando para trás e para toda a sua experiência, quem foi a pessoa mais influente no seu tipo de liderança? E qual é a sua definição de liderança?
AS: Winston Churchill, alguém que me ensinou que o sucesso é ir de fracasso em fracasso sem nunca perder o entusiasmo. Alguém que soube sintetizar o que de mais consciente tenho sobre o modo certo de viver, quando disse: “Um otimista vê uma oportunidade em cada calamidade. Um pessimista vê uma calamidade em cada oportunidade”.
A nossa existência, para ser plena e valer todo o esforço que despendemos, tem de obrigatoriamente ser baseada na defesa, promoção e conquista das nossas causas. Como Churchill defendia: “Melhor lutar por algo do que viver por nada”.
É com base no seu legado que muito facilmente respondo à última questão, a melhor definição e exercício de liderança é a que é feita pelo exemplo. Um líder é alguém que reúne em si várias competências, é alguém que simultaneamente é um coordenador das competências dos outros. E a melhor forma de capitanear um grupo de pessoas é ganhar o seu entusiasmo, respeito e dedicação à causa, através do exemplo de quem exerce liderança.

CIP prepara soluções para a requalificação massiva da população
 
A CIP vai marcar presença na Leadership Summit Portugal que decorre no dia 1 de outubro, no Casino do Estoril, para um debate sobre a imperiosa necessidade de requalificar as pessoas. Segundo o presidente da CIP, é necessária uma requalificação massiva da população para enfrentar os desafios da digitalização e esta confederação, tendo como missão anteCIPar e partiCIPar nos processos evolutivos da sociedade e da economia portuguesa, está já a construir soluções, envolvendo o Governo, as empresas e as instituições de ensino, para traçar um plano que ajude o país a minorar o impacto negativo dessa transformação.


Susana Almeida, 19/09/2019
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