Setor aeroespacial atrai investidores estrangeiros;

José Neves, presidente do AED Cluster Portugal, considera
Setor aeroespacial atrai investidores estrangeiros
Os setores da aeronáutica, do espaço e da defesa têm hoje um “impacto concreto na economia”, salienta José Neves.
Decorreu há dias mais uma edição dos AED Days, o maior evento industrial português nos setores da aeronáutica, espaço e defesa (AED) e que contou com a participação da Airbus, Boeing, Embraer, Leonardo e Bell Flight, entre outros. 
Em declarações à “Vida Económica”, José Neves, presidente do conselho de administração do AED Cluster Portugal, salienta que o cluster engloba mais de 70 empresas, empregando cerca de 18 500 pessoas e gerando um volume de negócios de 1,7 mil milhões de euros (1,4% do PIB), dos quais 87% se destinam à exportação.
O “cluster aeroespacial tem feito um caminho de crescimento e consolidação” e a sua relevância no contexto do desenvolvimento económico do país tem sido “evidente e reconhecida”, começa por afirmar o presidente do Conselho de Administração do AED Cluster Portugal.
Dando como exemplos o recente reconhecimento formal do AED Cluster como Polo de Competitividade, a criação da Agência Espacial Portuguesa ou a do Porto Espacial dos Açores, José Neves destaca ainda o crescente “interesse de empresas internacionais do setor, algumas de dimensão muito relevante”, que têm decidido investir em Portugal, designadamente a Embraer, a Lauak, a Mecachrome ou, mais recentemente, a Stelia.
Nesse contexto, a AED Cluster teve o “grande mérito em ter conseguido consolidar numa única entidade as atividades desenvolvidas até há pouco tempo atrás por três associações diferentes, dando um sinal de maturidade e ambição, em que queremos competir ao mais alto nível e globalmente”, reforça o responsável. 
Questionado pela ‘Vida Económica’ acerca do peso real do cluster na economia nacional, José Neves assegura que os setores da aeronáutica, do espaço e da defesa têm hoje um “impacto concreto na economia, induzem desenvolvimento tecnológico e inovação e criam emprego qualificado e alto valor acrescentado”. Na prática, o cluster engloba hoje mais de 70 empresas, nove instituições e oito universidades. Além disso, emprega cerca de 18 500 pessoas. Com um volume de negócios de 1,7 mil milhões de euros, dos quais 87% se destinam à exportação, este cluster representa cerca de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) português, ambicionando que até 2024 que o volume de negócio deste setor passe a representar 3%. 
Em termos concretos, o presidente do conselho de administração do AED Cluster Portugal revela que o peso relativo das várias áreas constituintes do cluster divide-se entre “aeronáutica, com 75%, espaço, com 53%, e defesa, com 61%, sendo estes valores, naturalmente, derivados das múltiplas sinergias existentes, dado que muitas das empresas trabalham em mais do que um setor, em simultâneo”. 
Não obstante, para o crescimento muito contribui também o “talento dos recursos humanos, não só nas competências de hard skills, designadamente em engenharia e a facilidade em falar outras línguas, mas também em soft skills, como a motivação, a mobilidade ou a flexibilidade”. Nesse contexto, “o IEFP tem percebido o potencial do setor aeroespacial”, tendo desenvolvido “um excelente trabalho na formação dedicada e especializada de recursos humanos para o setor”. 
José Neves refere ainda que há empresas de pequena e média dimensão em Portugal que, por atuarem em área de nicho, com competências fortes ganhas pelo investimento em Investigação e Desenvolvimento (I&D) ao longo dos anos, “conseguem posicionar-se no topo da cadeia de valor e serem altamente competitivas e remuneradas pelas suas atividades”. 
 
2019 foi um ano “extremamente positivo para o cluster”
 
Desafiado a fazer um balanço do ano de 2019, o presidente do AED Cluster Portugal garante que este tem sido um ano “extremamente positivo para o cluster”, com um aumento significativo da sua representatividade de 18%, consubstanciado na entrada de 11 novos associados.
Falando sobre os projetos em curso, em julho passado, o cluster patrocinou e submeteu duas propostas a Programas Mobilizadores Nacionais, geridos pela Agência Nacional de Inovação (ANI), um na vertente de Urban Air Mobility, designado por FLY.ME, e onde se propõe uma solução de veículo autónomo aéreo endereçada ao tema emergente da mobilidade aérea urbana e suburbana; e outro, designado por VIRIATO, que pretende desenvolver e demonstrar um veículo lançador suborbital que servirá como plataforma de teste e validação de diversos componentes e sistemas para um futuro microlançador português. 
Para além disso, José Neves destaca ainda a criação de uma Agência Espacial Nacional, a aprovação de legislação para o lançamento das iniciativas relativas ao Porto Espacial dos Açores e o Atlantic International Research Center e “o papel que a Comissão Setorial de Espaço da AED tem tido na preparação da Ministerial, que acontecerá este mês de Novembro, e do objetivo estratégico que Portugal tem em conseguir reforçar o orçamento nacional na Agência Espacial Europeia”.
Sobre o futuro, o responsável máximo do cluster realça o projeto de “criação de uma central de compras que contribua para aumentar a competitividade do ecossistema junto dos seus clientes finais, uma ambição tão antiga quanto exigente de implementar”. 
Salientando que os mercados globais dos setores da Aeronáutica, Espaço e Defesa têm tido um crescimento sólido desde 2014, “fruto de um contexto global particularmente favorável para estas indústrias”, José Neves remata sublinhando que, “tendo por base taxas de crescimento anuais de quase 5%, estes setores têm pela frente enormes desafios que perspetivam um futuro sustentado do mesmo, para os quais o cluster já está a trabalhar através de iniciativas como os projetos PASSARO e INFANTE”.

6ª Edição do “AED Days” reúne gigantes 
da indústria
 
Ao longo das suas edições, os “AED Days” têm vindo a aumentar os seus níveis de atratividade, quer nacional quer internacionalmente. Nesta 6ª edição, o evento atingiu um novo marco com a presença de gigantes da indústria, como Airbus, Bell Flight, Boeing, Collins Aerospace, Embraer, Leonardo, Safran, Stelia Aerospace, entre outros.
A participação destas empresas trouxe “não só um contributo enorme na conferência e nos workshops, ao expor a sua visão sobre Portugal e a nossa realidade comparada com a do mundo”, como também através da presença de alguns responsáveis das áreas de compras que aproveitaram o evento para “falar com as empresas portuguesas presentes, com o intuito de explorar parcerias e oportunidades de negócio”.

 


FERNANDA SILVA TEIXEIRA fernandateixeira@vidaeconomica.pt, 22/11/2019
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