A Terra Mágica do Rinoceronte;

Viagens na Minha Terra
A Terra Mágica do Rinoceronte
O que vou comer?
O rinoceronte é, como todos sabem, um dos 5 grandes mamíferos do Mundo. E em estado adulto, dada a sua corpulência e bravura, só tem um predador. Adivinham  quem possa ser? Pois claro, o Homem!
A razão do valor dado ao rinoceronte, e, em especial ao asiático, são as enormes capacidades medicinais e afrodisíacas que estão encerradas nas presas deste animal deslumbrante.
O rinoceronte, fora o período de acasalamento que ocorre de dois em dois anos, é um animal solitário e territorial. Mas tem uma única boa pretensão, um único e essencial capricho: a qualidade da terra em que habita. Tem que ser fértil e, por isso, bonita, e tem, essencialmente, que estar perto de água.
Ora, no meu querido Alto Minho onde habitualmente me refugio, vim encontrar a Terra do Rinoceronte.

O Rinoterra é um empreendimento turístico caracterizado por tudo o que o rinoceronte precisa: um território bonito, servido por uma casa belissimamente recuperada por um empresário russo que se apaixonou por esta zona do Minho.
O Rinoterra tem 7 quartos, dois são suites, com uma decoração requintada e elegante que nos transmite aquele conforto de que o rinoceronte precisa.
Estive no pequeno-almoço num dos fugazes momentos com o proprietário russo – Ilya Serbin. Ia para um campeonato de pesca desportiva, que me confessou ser o seu hobby preferido. Mas a sua paixão era mesmo Portugal e esta zona do Minho onde o mar e o rio dão um abraço fraterno. No final, disse-me algo que me impressionou: o segredo das muitas virtudes que eu encontrei no Rinoterra não estava na casa elegante, na soberba paisagem ou no empreendedorismo dele próprio. O segredo do sucesso do Rinoterra estava nas pessoas. Recordei a forma calorosa como fui recebido pela Ângela. A atenção quase maternal da Chefe Ana Guimarães e a simpatia natural da Paula Carreira…. e tive que concordar com o meu lúcido e simpático anfitrião.

Falei do jantar da véspera e digo-vos que há muito não tinha uma experiência tão “mimada”. Não sei se pela cumplicidade que se estabeleceu na bonomia da conversa com a Paula, se pela excelência e criatividade de cozinha dessa Chef invulgar que é a Ana Guimarães, de quem tenho que vos falar um pouco.

A Ana começou a sua vida como estilista e as coisas resultaram bem, tendo, com o seu empenho e criatividade ajudado muito a empresa onde começou. A verdade é que, com os ciclos por que o sector passou, a fábrica fechou e Ana decidiu emigrar. Mais tarde veio o mesmo apelo da terra que sente o Rinoceronte e, instada pelos filhos que conheciam bem a qualidade da sua comida, inscreveu-se na hoje tão  reputada Escola de Hotelaria de Viana. Depois, surgiu este convite. E cá ficou enchendo a casa toda de mimos e atenções maternais, de aromas e sabores inesquecíveis.
A Chef Ana é uma Chef da economia sustentável e circular. Aproveita tudo o que  há para aproveitar e faz tudo no seu tempo certo – compotas, licores, bolachas óptimas de manteiga ou chocolate, um bolo fresco todos os dias que os clientes tiram a seu bel-prazer, bombons exuberantes de chocolate e de fruta, enfim, um “não mais acabar” de pequenas coisas que  nos confortam ao pequeno-almoço e ao jantar (este para os residentes ou por reserva) e durante todo o santo dia.

Falemos do nosso inesquecível jantar:

As entradas estavam soberbas – um cogumelo grande recheado, género Portobelo,  excelente na textura e na harmonização que a acidez do tomate conferia aos sucos do recheio feito à base de carne. Depois um filó de alheira irrepreensível no crocante da massa e na leveza e sapidez de uma alheira genuína. Para finalizar uma espetada de kebab com molho julgo que de cardamomo, a dar-lhe um ar exótico e canforado que nos leva para o suave imaginário das “arábias”.



O prato de substancia era verdadeiramente sublime, no design artístico do empratamento mas, principalmente e porque eu “sou de comer”, na fragrância, na textura e nos aromas a mar e paraísos infinitos. Tratava-se de um robalo do mar – destes que o mar frio do norte nos entrega generosamente. Servido à provençal e delicadamente embrulhado em beringela e recheado com pasta de azeitona. O prato era acolitado de uma batata “sauté” e de um ninho de feijão verde que lhe dava o toque de cor final que ainda faltava.
Excelente o rigor e o ponto de humidade do robalo, bem equilibrado com a textura segura da beringela e a macia acidez da pasta de azeitona.
Ficámos “no céu” e para de lá sairmos só a presença da Chefe Ana Guimarães com uma requintada e criativa alteração à tradicional tarte tatin. Em vez da maçã, a Chef Ana usou a nossa gloriosa pêra rocha. E que bem que nos soube, acompanhada de um bola de gelado, aquela tarte tão criativa a aproveitar o melhor que Portugal tem.
No fim os cafés, as infusões que a Ana faz e os licores de tudo quanto há no pomar da casa. Para os de barba rija, julgo que inspirado nas origens do proprietário desta bela Rinoterra, sugiro o licor de vodka com piri piri. Verifiquem se o quarto é no mesmo piso para não correrem o risco de não chegarem lá!
Saímos do Rinoterra já saudosos daquela paisagem e daquela “comida de Mãe”. E ainda deixamos que os nossos olhos se perdessem na bonita piscina que continua para o espelho de água que ali faz o rio Minho  dominado pela tranquilo e altaneiro Monte de Santa Tecla. Bem hajam aqueles que fizeram no Alto Minho a abençoada terra do Rinoceronte!

O que vou beber?
De Chaquedas…,
com amor!



Criar um vinho é sempre um acto de paixão. Mas quando implica fazer dele um projeto de vida, renunciando a tudo o mais, então a paixão transforma-se em verdadeiro amor.
E assim aconteceu com Paula, advogada, a trabalhar em Gaia, e Francisco, oficial do Exército a trabalhar em Lamego e descendente de uma longa família de durienses. Primeiro, gostaram um do outro, claro está, mas depois (re) descobriram o Douro e encantaram-se com aquela terra, ao mesmo tempo austera e telúrica mas também mágica e amorável, quando tropeçamos num meandro mais largo daquele Douro exuberante.
Compraram os dois a Quinta da Cascalheira, em Cima Corgo, no bonito vale do rio Torto.
A família foi crescendo e com ela o sonho de Paula e de Francisco, que, mais tarde, quiseram também fazer crescer os limites da Quinta e da plantação da vinha. Já com uma família constituída,  enraizada e comprometida naquele projeto que a todos juntava.  Mantiveram com carinho uma vinha muito velha, a ”Ferradura” (e que ainda hoje se mantem) pré-filoxérica, com uma enorme variedade de castas tradicionais do Douro, que é toda suportada  em “muros de maceira”, sitos acima do solo, o que se traduz num efeito-estufa da videira único, e cujo potencial é aproveitado para a arte de fazer grandes vinhos.
Mas Paula e Francisco não ficaram por aqui. Em 2003 compraram finalmente, em Santa Marta de Penaguião, a Quinta que dá o nome aos Vinhos de Chaquedas. Foi uma homenagem ao avô de Paula, que lhe deixou um terreno, com esse nome, na Madalena. Terreno que Paula vendeu, para investir neste sonho maior. Reconstruíram a Casa que hoje beneficia de enoturismo e a adega, para melhor controlarem a qualidade dos seus vinhos, que cada vez granjeavam mais fama, a nível nacional e internacional.
Com o apoio ativo do enólogo Francisco Montenegro, começaram a surgir os grandes vinhos da Chaquedas – O DOC 2010 e o DOC Reserva 2013 lançado em 2015, com enorme reconhecimento público.
Há um segredo bem guardado para os finais de Setembro deste ano que aqui vos antecipo – o Grande Reserva 2014. Fiquem atentos!
Os vinhos de Chaquedas são grandes exemplares do Douro – o reserva 2014 impressionou-nos muito, por aquilo que já é e, principalmente, por aquilo que ainda vai ser! O “terroir xistoso” ajuda e a vinificação feita em lagar com pisa feita a pé. A variedade de castas utilizadas e a arte comprovada de Francisco Montenegro tornam este vinho mágico.
Uma paixão, transformada em amor … a partir de chaquedas. Amor que, para nosso consolo, se pode beber com enlevo e alegria!

O que conhecer?

Moledo, o Tornedó e as Amêijoas do Valadares

Moledo é um “must” do Verão no Norte do País. Com uma gastronomia franca e farta, bem representadas nos múltiplos restaurantes de Vila Praia de Ancora até Caminha, detém dois lugares especiais que merecem peregrinação anual.


Em Moledo, o Tornedó, um restaurante simples com um jardim fresco e asseado, animado com mesas e bancos de pedra, para as noites amenas do Verão. E o prato ícone (para além de um excelente bacalhau de cebolada) é o tornedó. Dois bifes generosos são servidos em prato redondo de barro, com pimenta, com queijo ou com cogumelos e, sempre, com uma magnífica e generosa dose de batata frita à Inglesa.



Mais à frente, em Caminha, não falhe a visita religiosa ao Valadares. É aqui que se comem as melhores amêijoas da região – à bolhão pato, pois claro, acolitadas com umas irresistíveis torradas de pão com manteiga que, desavergonhadamente, mergulhamos naquele molho de mar, azeite e alho onde as amêijoas se escondem. E mais não digo. Se ainda se atreverem pelo Alto Minho, não deixem de peregrinar o estômago por estes dois santuários de bem comer!

Viagens a outras terras

AGAVI com IVDP e AEP em Nova Iorque!



As triplas normalmente são sempre vencedoras. E assim acontece com esta cooperação feita à volta das três Instituições – A AEP, a AGAVI e o IVDP  que  juntaram esforços para levar a Nova Iorque o melhor de Portugal. Com vários clusters representados sob organização da AEP que convidou a AGAVI para coordenar o cluster agro-alimentar. A AGAVI desafiou, por sua vez, o IVDP - Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto para, no âmbito das comemorações do dia do Vinho do Porto (Port Wine day), realizar em Nova Iorque uma “Master Class” de Portos que será seguida de uma prova de vinhos do Douro, com a presença de vinhos da Viteno, da Quinta de Chaquedas, da Porto Reccua e da Quinta da Pôpa. Depois, seguir-se-á a mostra dos melhores produtos portugueses:  presentes estarão as nossas conservas, chocolates, compotas, entre outros. No final, um grande “showcooking” desenhado e confecionado pelo Chef Hélio Loureiro, todo elaborado com produtos portugueses.
Apresentado nas Pedras de Sal portuguesas da Rockaroma (oriunda de uma das minas mais antigas do Mundo em Loulé), terá os produtos de muitas empresas portuguesas, como a Imperivm, a Minho Fumeiro e  a Qual House. Uma presença em grande de Portugal em Nova Iorque, um mercado estratégico para os vinhos portugueses, feita com o apoio do AICEP e do Compete!


Susana Almeida, 08/09/2017
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