Fábrica de Cervejas Portuense cria 50 postos de trabalho na baixa do Porto
Abre as portas em dezembro a nova Fábrica de Cervejas Portuense, uma unidade industrial de produção que representa um investimento de três milhões de euros e que vai gerar 50 postos de trabalho diretos na baixa do Porto.
A “Vida Económica” visitou a obra e falou com Pedro Mota, licenciado em Microbiologia pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto, que, com Tiago Talone, formado em Marketing pelo IPAM e ex-quadro da Unicer, são os responsáveis do projeto.
Nesta entrevista, Pedro Mota assume um objetivo: atingir “o melhor de dois mundos: o melhor em termos de maquinaria e a melhor matéria-prima”. O produto final é, para já, destinado ao canal horeca.
Vida Económica – Há quanto tempo está em preparação este projeto de investimento da fábrica?
Pedro Mota – Desde que nós nos juntamos e começamos a pensar nisto já lá vão três anos e meio a quatro anos. Fizemos muita pesquisa, muita análise de casos, recolha de dados, fizemos um ‘business plan’ sólido, embora depois tenhamos trabalhado para elaborar uma versão mais pequena e mais acessível desse ‘bussiness plan’ para entregar aos investidores, porque ninguém tinha paciência para analisar mais de 180 páginas e mais os anexos. Tudo isto ficou terminado há cerca de dois anos e foi nessa altura também que abordamos a Câmara do Porto, que estava a constituir a InvestPorto. A partir daí, fomos à procura de um espaço no centro do Porto para instalar uma fábrica.
VE – Certo é que é um pouco inusitado instalar uma fábrica de cerveja no centro de uma cidade como o Porto.
PM – Não é, de facto, a coisa mais comum do mundo. As pessoas tendem sempre a ir para zonas industriais, onde é sempre muito mais fácil. Já nem falo pela questão das licenças e da logística, o que justificaria realmente fazer isso numa zona industrial, mas é um desafio.
VE – O processo de obtenção das licenças foi fácil?
PM – Foi. Nós conhecemos bastante a realidade internacional, então na Europa conhecemos bastante bem mesmo. A legislação é um pouco diferente de país para país, mas não muito diferente. E nós sabíamos quais os pontos-chave que tínhamos de tocar. E a Câmara do Porto foi-nos acompanhando e foi-nos dizendo quais seriam os parâmetros que tínhamos de manter para garantir se podíamos fazer esta instalação no centro do Porto. Existem algumas caraterísticas técnicas que nos obrigaram a algumas mudanças no equipamento, mas nada crítico. Tiveram mais a ver com as potências elétricas, coisas assim. A necessidade energética da fábrica e toda a instalação que aqui temos não vai ser superior à de um restaurante da nossa dimensão agregado em cima com apartamentos. E aqui na baixa o que não falta são equipamentos assim. Em dezembro do ano passado tivemos o acordo dos acionistas e também uma pré-aprovação da parte da Câmara de que se podia construir um projeto assim.
VE – Quem são os acionistas associados a este investimento?
PM – A empresa que foi constituída é uma sociedade anónima, mas não nos termos gerais que se costuma conhecer. Os nossos acionistas são pessoas aqui do Norte de Portugal, muitos do Porto, temos um grupo de acionistas internacionais, que são três, mas a seu tempo eles irão aparecer. Irão aparecer, porque são pessoas muito ligadas à cidade do Porto, que têm muito a dizer e nós também queremos que estejam presentes connosco. São empresários de outros setores que estavam interessados em apostar em negócios no Norte do país e, lá está, em algo inovador. Nós temos discutido entre nós que no Porto têm aparecido muitos investimentos nos últimos anos, mas a grande parte são ou hostels ou restaurantes. Não aparecem coisas muito inovadoras no centro do Porto. Não aparecem fábricas. E quando os investidores viram o nosso ‘business plan’ disseram: ‘bem, isto realmente é diferenciador e, se os números cruzarem, faz todo o sentido, porque é algo diferente’. E por isso os acionistas abraçaram este projeto com muita força e vão querer estar muito presentes nos próximos passos, mesmo ainda antes do lançamento.
VE – Qual é o vosso calendário de abertura?
PM – Temos previsto um plano de apresentações até à abertura ao público, que está prevista para dezembro, com uma série de etapas, nomeadamente com o lançamento da própria marca.
VE – Qual será a marca da vossa cerveja?
PM – A marca é um dos tais lançamentos que vamos fazer em breve, mas ainda não comunicamos o nome. Estamos a falar da Fábrica de Cervejas Portuense, mas a marca ainda não divulgamos.
VE – Mas será uma cerveja artesanal?
PM – Esse é um conceito que também vamos ter de modelar um pouco em Portugal. O conceito de artesanal tem sido conotado com micro-cervejeiras, projetos muito, muito pequenos. E nós vamos tentar colocar-nos num segmento de mercado que ainda não existe, que é o regional. Lá fora consegue-se identificar perfeitamente esse segmento, porque existem a micro-cervejeiras e as cervejeiras industriais e, no meio, existem estas, regionais. E em Portugal é neste segmento regional que queremos entrar diretamente. Normalmente as pessoas conotam muito a cerveja artesanal com estes micro-cervejeiros, muito mais do que uma cerveja regional, até porque o nosso processo de fabrico acaba por ser muito idêntico ao do processo de uma cerveja industrial.
VE – E onde é que está a grande diferença?
PM – A grande diferença está nas matérias-primas que vamos utilizar. Nós vamos tentar o melhor de dois mundos: o melhor em termos de maquinaria, com equipamentos em tudo iguais aos de uma cervejeira industrial, topo de gama, do melhor que se pode ter mas, depois, em vez de utilizar fórmulas em matérias-primas mais baratas e tentar espremer ao máximo, podemos utilizar as matérias-primas de mais qualidade, que é o que normalmente os mais pequenos fazem. A falha que eles têm é que não têm depois os equipamentos que lhes permita ter uma produção homogénea ao longo do tempo. Mas isto é normal e o mercado vai filtrar isso. Têm aparecido imensas cervejeiras em Portugal nos últimos tempos e ainda vão continuar a aparecer mais, mas o mercado vai fazer o seu trabalho e algumas vão ficar pelo caminho, porque quem tiver mais qualidade é que vai ficar.
VE – Para além daquela que é a mais conhecida das matérias-primas da cerveja – a cevada –, quais são as outras?
PM – É o lúpulo, que é uma planta trepadeira e que é o que confere o sabor amargo à cerveja e também algum do amargor, e a levedura. Para além da água, obviamente, que é a maior parte. São as três matérias-primas e é com essas três que vamos trabalhar.
VE – Terão origem nacional ou não?
PM – Não. Infelizmente, não. Nós pesquisamos, mas não há. Mas eu acho que, a curto prazo, vão aparecer alternativas sólidas em Portugal para poder dar resposta a todo este movimento que está a surgir?
VE – Mas ponderam fazer algum tipo de parceria com agricultores para a produção, nomeadamente da cevada?
PM – Existem vários projetos em mente para desenvolver. Um deles seria esse. Obviamente que também queríamos ajudar na produção de lúpulo. Aqui em Portugal podem existir campos de lúpulo, como já existiram, mas em pequena quantidade para os lados de Bragança. Portugal tem clima para produzir lúpulo. E, por isso, se houver mercado temos capacidades para poder produzir. Claro que essa é uma segunda etapa. Nesta primeira etapa vamos tentar estabilizar e otimizar os nossos processos e depois de termos as coisas mais estabilizadas, então aí, sim, partiremos para esse passo.
VE – Que capacidade de produção vai ter esta fábrica e que quantidade de matéria-prima vão necessitar?
PM – A capacidade de produção da fábrica será de dois milhões de litro por ano. Obviamente não nos interessaria esgotar a capacidade de produção no primeiro ano, o que será difícil de acontecer, de acordo com as nossas previsões. Temos também uma previsão daquele que poderá ser o valor das vendas, mas ainda é um pouco precoce estar a assumi-lo. Neste momento estamos a analisar os clientes e onde vamos conseguir estar.
VE – Mas será um produto essencialmente para venda no mercado nacional?
PM – Também vamos ter exportação, mas essencialmente será para o mercado nacional, sim. E como nós nos estamos a tentar posicionar como uma cerveja do Norte, estamos a tentar apontar para o mercado desta região.