À procura do rumo perdido;

À procura do rumo perdido
Há muito que Portugal perdeu o rumo.
Os interesses perpétuos do país e de um povo foram, paulatinamente, substituídos pelos interesses de poucos e isto não é só um problema dos grandes, até os pequenos se fazem valer da mais pequena réstia de influência que possam ter. A diferença é que na esfera superior os ganhos são imensuravelmente maiores. Enquanto na mais recôndita freguesia se compram votos com POC ou se vendem votos a troco de sacos de cimento, os graúdos trocam favores que são inimagináveis. César, uma personagem da série portuguesa intitulada de “Os Boys”, que satirizava a política portuguesa, responde muito claramente a esta situação: “Andamos todos ao mesmo!”
Um amigo, numa conversa, disse-me antes deste ano 2021 começar: “2021 vai ser o ano da cunha.” Verdade é que poucos passos demos neste novo ano e já observamos todo o tipo de esquemas para se ser vacinado primeiro que o outro. Os valores humanistas foram deixados de lado e a procura pelo bem comum foi substituída pela procura de uma desculpa perfeita de forma a legalizar e legitimar o privilégio próprio.
O tribalismo ocupou o espaço político português, dizem muitos, mas porquê?
Carl Schmitt, se pudesse ver Portugal hoje, claramente se orgulhava da sua obra. As diferenças são tão profundas que vemos digladiarem-se nas redes sociais, todos os dias, a qualquer hora, os extremos do nosso espectro político. Como um vale se aprofunda com a erosão, também o fosso que separa os dois lados se aprofunda e observamos que quem está no centro ou se encosta aos extremos ou cai no abismo.
A raison d’étatfoi substituída pela raison d’accommoder. A administração pública foi completamente colonizada pelo poder político, como várias vezes é referido por Miguel Morgado, e quando há uma transição de poder, por meio de eleições, as cúpulas da administração pública são substituídas, mas os quadros intermédios, que muitas vezes são vassalos partidários, pois foram lá colocados por eles, não permitem que as decisões tomadas no topo cheguem à fase de execução. Assim arrastamos os problemas de um país sempre à espera da melhor altura política para executar a acção que consequentemente é travada pelos partidários do outro lado que têm interesse em puxar o travão de mão quando mais é necessário.
Afinal onde está o rumo de Portugal?
Parece que entramos num loop do qual não conseguimos sair. Passamos a nossa vida assombrados pela dívida pública, pelo resgate de impérios financeiros falidos, por empresas públicas que apresentam constantemente prejuízos, por contratos públicos ruinosos, tudo isto vai sendo insuflado por mais uns trocos cobrados no fim de mais um dia de trabalho dos contribuintes. A esperança foi completamente perdida e cada grupo tenta açambarcar o seu quinhão do espólio a saque. Todos reivindicam mais vacinas, mais aumentos, mais condições e, no fim do dia, não percebemos que as nossas reivindicações desmesuradas estão a tirar ao grupo que está ao nosso lado. Aqui começa mais um fraccionamento, que mais tarde dará origem a muitos outros.
A nossa sociedade parece que se está a desintegrar ao ponto culminar numa “guerra de todos contra todos”.
Se perguntarmos à nossa elite governante quais os interesses permanentes do país, eles não o sabem. Nunca precisaram de os saber. O poder pelo poder foi a palavra de ordem dos últimos tempos.
Precisamos de estadistas, precisamos de gente que dedique a sua vida ao Estado.
Precisamos de um rumo, só assim encontraremos o lugar de Portugal no mundo.
Se houver um rumo, haverá esperança.
Luís Soares Presidente da JSD Distrital da Guarda, 04/03/2021
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