“Só é possível melhorarmos os rendimentos com mais produtividade”;

Fernando Teixeira dos Santos considera
“Só é possível melhorarmos os rendimentos com mais produtividade”
Para Teixeira dos Santos, a política da desvalorização interna resultou e corrigiu o défice externo, mas não é sustentável a nível político e social.
“A reposição de rendimentos, sem mais, arrisca a comprometer as melhorias alcançadas em competitividade e saldos externos” – afirmou Fernando Teixeira dos Santos. O presidente do Eurobic e ex-ministro das Finanças foi o orador convidado da Gala da AEBA, Associação Empresarial do Baixo Ave, que decorreu há dias na Trofa.

Para Teixeira dos Santos, existe uma correlação muito forte entre produtividade e níveis de rendimento. E a via da melhoria da produtividade não é empobrecedora.
“Importa reforçar a competitividade das nossas empresas, o que passa pela melhoria da produtividade. Este é o grande desafio para o crescimento e competitividade. Temos que reduzir custos, mas o que está em causa é o custo por unidade produzida. Tal pode ser conseguido produzindo o mesmo com menos custos ou produzindo mais com os mesmos custos. Em suma, temos que ser mais eficientes” – explicou Teixeira dos Santos aos convidados da AEBA.

Desvalorização interna deu resultados mas não é politicamente sustentável

O presidente do Eurobic afirmou que tem sido dada pouca atenção à questão do equilíbrio externo. Portugal conseguiu com o ajustamento efetuado entre 2011 e 2013 eliminar um défice externo – que andava nos 10% do PIB – e desde 2013 tem mantido uma situação que é praticamente de equilíbrio.
A balança comercial nos últimos anos tem sido mesmo positiva. Durante 100 anos, só durante a Segunda Guerra Mundial conseguiu ter uma balança comercial com saldo positivo, através das exportações de volfrâmio. “O défice comercial crónico é um sintoma da falta de competitividade da economia” – salientou Teixeira dos Santos. Durante muitos anos procurámos remediar essa fragilidade com a desvalorização cambial, o que deixou de ser possível no quadro da moeda única. “O programa de ajustamento visou objetivos de curto prazo e apostou na chamada desvalorização interna, um eufemismo para contenção e cortes salariais. Esta política deu resultados. A conjuntura de atrofia no mercado interno levou a que muitas empresas portuguesas se virassem para o exterior” - referiu. As exportações, que em 2010 pesavam cerca de 30% do PIB, pesam hoje cerca de 44% do PIB. “Estamos com um progresso no mínimo notável. A política de desvalorização interna implicou austeridade e muita. Mas esta via é empobrecedora, sendo política e socialmente insustentável. Basta ver a forte pressão para a reposição de rendimentos por parte dos partidos políticos, organizações sindicais e até dos meios de comunicação social” – considerou Teixeira dos Santos, justificando a prioridade ao crescimento pela via da produtividade.
Para o ex-ministro dos Finanças, o endividamento do país é ainda muito elevado. A redução da dívida pública e privada é prioritária. Enquanto mantivermos um nível de dívida elevado, estamos vulneráveis a fatores externos desfavoráveis e a fatores internos.
Os custos da dívida pública e privada têm sido atenuados pelos níveis historicamente baixos das taxas de juro. Mas, perante uma subida das taxas de juro, as famílias, as empresas e o Estado  poderão ser confrontados com um agravamento significativo dos seus encargos.
Susana Almeida, 30/11/2018
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